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Gazeta Paços de Ferreira

24/05/2024, 0:00 h

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Encarregada de educação confronta Rosário Rocha

Educação Gazeta do Leitor

GAZETA DO LEITOR

"Penso que ninguém se pode achar no direito de julgar o ambiente familiar de uma criança, sem ter conhecimento de causa, porque, hoje em dia, as crianças têm os dois pais que trabalham das 7h30 até às 19h30, mas não é por escolha dos pais é porque, ainda hoje em dia, uma família tem contas para pagar e isso só pode ser possível com os dois pais a trabalhar.
Se os agrupamentos querem que os pais paguem cotas para associações de pais, entradas para visitas de estudos, comprem rifas, não podem exigir que os pais trabalhem menos."

 

A propósito do artigo "Dia da Mãe e Dia do Pai" de Rosário Rocha, publicado na Gazeta de Paços de Ferreira de 9 de maio de 2024.

 

 

No seguimento da publicação de um artigo no qual a Sra Professora Rosário Rocha da AE Frazão dava a sua opinião sobre diversos assuntos relacionados com festas no âmbito educacional, dou os parabéns à iniciativa. Contudo, não vejo exposta a opinião dos encarregados de educação, que nem sempre são os pais ou mesmo parentes das crianças.

 

 

Sendo assim, permita-me dar a opinião de uma simples encarregada de educação sobre os assuntos expostos no vosso artigo.

 

 

A comemoração de qualquer tipo de festividades, realizadas no âmbito escolar, foram criadas e inventadas pelas próprias instituições educacionais, para, justamente, tentar criar um laço de ligação entre o ambiente escolar e o ambiente familiar.

 

 

A situação familiar de cada criança é do conhecimento da instituição escolar e, se não o é, deveria ser. Sendo assim, compete ao representante educacional ter a delicadeza de questionar as crianças daquela turma, ou mesmo da escola, se querem ou não celebrar determinada festa para, simplesmente, não causarem algum tipo de desconforto nestas celebrações. Porque, efetivamente, trata-se do crescimento físico e mental dos futuros adultos, que, em determinados momentos ao longo de suas vidas, irão sentir desconforto em determinadas situações.

 

 

Se para a Sra Professora Rosário Rocha, que acha que o festejo de celebrações, como dia da Mãe ou dia do Pai, não deveriam de ser celebradas, então porque celebrar todas as outras faz sentido?

 

 

 

 

As crianças, que não podem ter o Pai ou Mãe presente no dia do Pai ou da Mãe, também não os vão ter nas outras celebrações.

 

 

A Sra Professora Rosário Rocha dá a sua opinião, baseada na sua experiência de vida, mas isso não significa que a sua experiência de vida seja igual à do resto da sociedade. 

 

 

Sim. Concordo que a sociedade está a perder, cada vez mais, o seu lado humano e afetivo, mas essa perda foi causada pelo desapego da nossa entidade portuguesa, com algo, que toda gente tem vindo a esquecer: com o "covid".

 

 

Foi uma época, durante a qual, todos se isolaram de todos, passando a desconectar do seu lado humano e passando a ligar ao mundo virtual.

 

 

Esse desapego foi incentivado pelo meio educacional, no qual ninguém tinha contacto com ninguém, no qual era tudo virtual, no qual um professor podia recusar dar aulas se pertencia a um grupo de risco, no qual uma criança não podia tossir ou era isolada de todas as outras crianças. Ainda hoje em dia, se uma criança tem febre é, imediatamente, separada das restantes e é chamado o encarregado de educação, para a ir buscar.

 

 

Penso que ninguém se pode achar no direito de julgar o ambiente familiar de uma criança, sem ter conhecimento de causa, porque, hoje em dia, as crianças têm os dois pais que trabalham das 7h30 até às 19h30, mas não é por escolha dos pais é porque, ainda hoje em dia, uma família tem contas para pagar e isso só pode ser possível com os dois pais a trabalhar.

 

 

Se os agrupamentos querem que os pais paguem cotas para associações de pais, entradas para visitas de estudos, comprem rifas, não podem exigir que os pais trabalhem menos.

 

 

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O facto de um pai ou uma mãe trabalhar 8h por dia não significa que não cria nenhum laço para com o seu filho. As professoras e auxiliares passam horas com as crianças e, nem por isso, criam laços afetuosos com todas elas. Não é a duração do tempo, que se dedica a uma criança que importa, mas o tempo em si. É o, simplesmente, estar presente.

 

 

Sobre o facto das crianças participarem em actividades, após a escola e ao fim de semana, penso que existe um equívoco. 

 

 

Essa participação é pedida pela própria criança e é, exatamente, durante essas actividades, que as crianças criam laços de amizade com outras crianças ou mesmo com adultos, e nessas atividades estão pais, mães, tios, tias, irmãos e avós presentes.

 

 

Sim. A sociedade de agora não é a sociedade de antigamente, na qual as crianças iam em grupo para a escola, e, ao passar na rua, os vizinhos saíam à porta e todos se cumprimentavam; na qual as crianças iam para a escola às 9h e chegavam a casa às 16h30, quando as mães esperavam por elas com o lanche; quando só se podia ver um pouco de televisão ao jantar ou antes de se deitar; quando na escola ainda se procurava o significado das coisas numa enciclopédia.

 

 

 

 

Não. Hoje a sociedade é diferente: os dois pais trabalham e, por isso, têm de pedir à escola se podem deixar os seus educandos às 8h e se podem ir buscá-los às 18h, porque nem todos têm os avós ou mesmo familiares a viverem perto deles; hoje em dia os quadros da escola já são interativos; as provas de aferição já são realizadas em computadores; hoje em dia uma Professora, quando quer fazer uma pesquisa, já não vai à enciclopédia, mas sim ao Google; nos serviços de acolhimento e de prolongamento as crianças não fazem atividades, mas sim vêem televisão.

 

 

Sra Professora, esta mudança na sociedade não é só da culpa dos constituintes do ambiente familiar das crianças, não é só da culpa dos constituintes do ambiente escolar, ou só da culpa de outros ambientes que podem rodear uma criança; a culpa é, sim, de todos.

 

Fernanda Carvalho

 

 

 

 

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