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Gazeta Paços de Ferreira

31/12/2025, 11:17 h

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La revuelta de los segadores e o 1ª de Dezembro de 1640

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

A propósito de um livro encontrado num hotel de Barcelona...

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

“Abençoada revolta da Catalunha – começou Dom Álvaro de Abranches da Câmara, um dos maiores defensores do reino – que desviou de nós as atenções de Olivares e do seu exército. Espantou-nos a tardia reacção do conde-duque ao nosso golpe, como se lhe custasse a crer que os portugueses fossem capazes de tal ousadia. Essa imprudência foi-lhe fatal.”

 

Deana Barroqueiro, uma das minhas referências no romance histórico, no seu 1640, traz neste épico, Quatro guias singulares (que) conduzem o leitor nesta viagem ao passado, através dos seus dramas pessoais e colectivos: o poeta proscrito Brás Garcia Mascarenhas, autor da epopeia Viriato Trágico; a professora Violante do Céu, a Décima Musa da poesia barroca, enclausurada no convento; D. Francisco Manuel de Melo, maior prosador ibérico do séc.XVIII, prisioneiro na torre; e o Padre António Vieira, o mais brilhante pregador do seu tempo, a contas com a Inquisição.

 

Numa viagem a Barcelona, o hotel tinha, coisa pouco vista nestes tempos de zombies, variados livros no salão. Num deles, Historia da Catalunha, procurei os sucessos revolucionários contemporâneos do nosso 1940. Aqui vai: a permanência  de os tércios, após a guerra com a França, na Catalunha, uns 10 000, trouxe graves problemas para os camponeses, obrigados a dar-lhes alojamento além de outras mordomias. Mercenários, aventureiros mal pagos, levaram o terror a muitas terras e tudo começou em Sta Colona de Farnes com a cidade a recusar o alojamento. A intervenção do comandante enviado para acabar com o conflito terminou mal, com a sua morte. A rebelião alastrou  a Barcelona e a 7 de Junho de 1640 um incidente entre o chefe da guarda e um ceifeiro desencadeou um motim com a morte do governador.

 

 

 

 

Segundo o livro, que sigo, o momento culminante que ficou conhecido como Corpo de Sangue,  foi mitificado pelos historiadores românticos, mas não foi um levantamento patriótico pois os amotinados gritavam Visca la terra! mas também Visca lo rei!

 

Houve, segundo o historiador francês Pierre Vilar, uma coincidência entre o movimento camponês e urbano, pois os pobres das cidades aderiram com entusiasmo e os motins alastraram a várias cidades como Girona e Granollers. A oligarquia catalã aproveitou a situação para lutar contra o duque de Olivares, defendendo os privilégios e a constituição do país, convertendo-a numa guerra patriótica contra a dominação castelhana e numa guerra de independência, guerra durou dez anos.

 

Para começar a ler o livro, um tijolo de quase novecentas páginas, aventurei-me por Dom Francisco Manuel de Melo que conhecia, muito mal, desde o liceu: Carta de Guia de Casados e O Fidalgo Aprendiz. Homem do seu tempo, militar, historiador da revolta catalã, político, estava em Espanha aquando do 1º de Dezembro – Perdi o glorioso momento da Restauração por me achar na guerra da Catalunha - sofreu cárcere dos dois lados pela desconfiança  que trazia.  

 

É no mínimo interessante transcrever o que pensa sobre o Padre António Vieira: …em que nos cruzámos bastas vezes na Corte, trocando algumas palavras e ideias, mas não amizades, por serem muitas as diferenças que nos separam. …nunca me escreveu uma palavra sobre elas (as minhas obras), presumo que não as achou merecedoras de crédito. Assisti a alguns dos seus sermões, em São Roque, admirando-lhe o raciocínio, o engenho e a verve, mas apercebendo-me também da sua vaidade, ambição e capacidade de dissimulação ou de manejo dos espíritos mais fracos, como do meu real parente, que fazem dele um homem muito perigoso.

 

 

 

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