10/05/2024, 0:00 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
COMENTÁRIO - EDUCAÇÃO
Comemorar ou não?
Já tínhamos pensado várias vezes se devíamos manter esta comemoração ou não. Este ano, na minha escola, o primeiro ciclo acabou por decidir todo que não iríamos elaborar a tradicional prendinha para os pais nem para as mães.
Todos os anos sentimos algum “nó” no estômago, quando estamos a fazer a lembrança, pois temos alunos que chegarão a casa e não têm presente a pessoa a quem deveriam entregar a lembrança. São crianças cujos pais vivem no estrangeiro, ou estão separados e vivem só com um, ou ainda, nem vivem com nenhum dos progenitores.
Claro que sempre procuramos atenuar essas situações, arranjando alternativas para superarem essa ausência, aconselhando, por exemplo, a entregar a prenda à pessoa que faz esse papel. Contudo, estamos cientes que era uma forma de contornar, mas não a situação ideal. Isto acontece nas escolas todas e claro que acontecerá em muitas situações na vida em que não terão possibilidade de estar com os dois progenitores (aniversários, festas da catequese ou da escola…).
Mas a vida é assim e penso que a escola deve minimizar o mais possível estes constrangimentos para alguns alunos.
Dia da Família
Até porque temos enraizado, enquanto professores, que devemos comemorar estas datas, lá decidimos que devíamos festejar um dia que servisse para todos: o dia da Família| E assim o faremos no dia 15 de maio, com uma atividade aberta à família.
Na família cabem vários: pais, avós, irmãos, tios, padrinhos…até família do coração, sem laços de sangue, mas que tantas vezes são mais família do que a sanguínea.
Para mim esta data faz todo o sentido, até porque, sendo eu oriunda de outra terra e tendo feito vida em Paços de Ferreira, aqui criei uma família de coração. E os meus filhos, apesar de terem os avós um pouco distantes, a nível geográfico, adotaram (ou foram adotados) por outras pessoas mais próximas, a quem carinhosamente chamam de tios, mas por quem têm um amor equivalente ao de avós. Para eles sempre foram os segundos pais. Portanto, têm a sorte de ter uma família alargada que sempre os acompanhou, quando os pais não puderam.
E, também por esta experiência pessoal, acabei por achar que deveríamos festejar o dia da Família, sabendo que, se fosse na escola dos meus filhos, provavelmente, eu não iria poder participar, mas que teria a Tia do coração a acompanhar os filhotes.
Terá sido boa opção?
Ainda não chegamos ao dia, mas avalio já por antecipação. Não foi uma boa opção. Já percebi que haverá crianças que não terão nenhum elemento da família presente e, sendo assim, não foi uma boa opção.
Esta perceção antecipada do que vai acontecer deixa-me inquieta. Entendo que os pais trabalham, o que é bom sinal, a maioria dos avós também, os irmãos estarão na escola… E percebe-se que a família se reduz a estes laços, não havendo muito mais além. Já percebi que, inclusive, há avós que não integram propriamente o núcleo familiar e que, quando se pensa em família, quase se resume aos progenitores.
Já há uns tempos, num artigo, falei na questão dos laços que se foram perdendo, até com os vizinhos, que, antigamente, também eram quase família.
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Que laços familiares se criam?
Com a questão da escola a tempo inteiro, os miúdos entram às 7h30 e saem às 19h30, porque é prático para os pais, porque não se incomoda ninguém, porque se paga e está resolvido. Mas, e que relações estabelecem estas crianças? Quase só as que o espaço escolar permite.
Além dessas relações estabelecidas na escola, estabelecem-se as dos desportos ou atividades em que as crianças participam, após a escola, ou ao fim de semana.
E onde estão as relações afetuosas? Da família, dos vizinhos, dos amigos, amigos (não colegas)?
Não há tempo…não há predisposição…não há, não sei exatamente o quê…
Para onde caminhamos?
Sinceramente, caminhamos para um mau caminho. Há uns tempos, já abordei a questão das atividades escolares fora do horário e da participação dos pais. Brevemente teremos o dia do Agrupamento, à noite, para permitir a participação das famílias. Certamente, quase metade dos alunos não irão, pois teriam que ser os pais a levá-los e a acompanhar. Isto tem vindo a acontecer nas atividades fora do horário escolar. Concluo, de forma básica, o seguinte: Escola e Família estão cada vez mais separados, com objetivos diferentes.
A escola toma conta desde que abre até que fecha, e, se alargarem o horário, tanto melhor. Após isso, há outras prioridades.
Longe vão os tempos em que os pais de uma mesma turma tinham o sentido de união, hoje sente-se, essencialmente, o espírito de competitividade, que transmitem, direta ou indiretamente aos miúdos.
Vemos uma sociedade pouco solidária e empática, mas, a continuarmos neste caminho, em que não são reforçados os laços familiares e sociais, com o vizinho do lado, por exemplo, continuaremos a criar crianças cada vez mais individualistas…e não vivemos numa ilha, devíamos ser seres sociais, no verdadeiro sentido da palavra.
Temos que alargar as relações pessoais, começando pela família.
Para finalizar, quero justamente enaltecer a família de coração que tive a sorte de criar em Paços de Ferreira, onde destaco a “Tia Nena e o Tio Quintino”, e os primos que sempre acompanharam os meus filhos, acrescentando-lhe Amor e todos os outros cuidados quando os pais não podiam estar presentes.
Que sorte tenho por esta família alargada!
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