08/06/2022, 0:00 h
589
A Psiquiatria consiste numa especialidade médica. Contudo, existe algo associado a ela que a torna particular, num mau sentido – estou a referir-me ao estigma. A palavra estigma, historicamente, refere-se a uma marca realizada nos escravos gregos para os separar dos homens livres. No quotidiano a palavra é utilizada para identificar vergonha ou defeito.
Podemos distinguir dois tipos de estigma: decretado (estigma externo, discriminação) que se refere à experiência de tratamento injusto por terceiros; e o estigma sentido (interno ou auto-estigmatização) que se refere à vergonha e expectativa de discriminação que impede as pessoas de falarem das suas experiências e de procurarem ajuda. O estigma sentido pode ser tão prejudicial como o estigma decretado, uma vez que limita o apoio social.
Devemos começar por interrogar quantos de nós já ouvimos frases como: “não queria admitir que estou doente”; “quero evitar medicações da Psiquiatria”; “não quero que os outros saibam que vim a consulta de Psiquiatria; “os outros dizem que não tenho razão para estar assim”; “não quero medicação para a vida toda” … Para além disso, existem termos relacionados com doença mental que são usados no dia-a-dia de forma pejorativa, tais como “esquizofrénico”, “psicopata” e “maníaco”, que fazem com que as pessoas se afastem ainda mais da procura desta especialidade mesmo quando precisam. Um outro exemplo são as próprias ideias pré-concebidas e erróneas que as pessoas têm dos doentes mentais, tais como: as pessoas que padecem de doença mental são violentas e perigosas; estas pessoas nunca vão recuperar e nunca vão deixar a medicação; as pessoas com doença mental vão ter trabalhos de qualidade inferior e com menos responsabilidade; as pessoas com doença mental não se esforçam e querem é estar em casa…
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, "a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade". A saúde mental não é estanque nem estática, podendo haver desequilíbrios ao longo da vida. A intervenção precoce, em certos casos, previne complicações futuras e, noutros, facilita a recuperação e a reinserção social nas situações mais crónicas.
Viver com uma doença mental implica vários desafios e dificuldades. Se está em sofrimento procure uma consulta médica e peça ajuda. Não permita que o estigma lhe impeça de melhorar e viver uma vida com Saúde.
Margarida Barros, Médica Psiquiátrica
ASSINE GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA
ASSINATURA ANUAL
IMPRESSA/PAPEL – 20,00 + OFERTA EDIÇÃO DIGITAL
EDIÇÃO DIGITAL – 10,00
Opinião
17/08/2025
Opinião
13/08/2025
Opinião
11/08/2025
Opinião
10/08/2025