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Gazeta Paços de Ferreira

15/08/2023, 0:00 h

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PARA ONDE VAI O OCIDENTE?

Opinião Partido Comunista

OPINIÃO

A África move-se agora velozmente em direção a um novo protagonismo liberto de amarras e do discurso de pedinte.

Cristiano Ribeiro

Esta grande interrogação feita em público pelo Papa Francisco, e que tem agitado positivamente o debate político na atualidade, tem muito significado.

Relembro o texto, citando parte:

“No oceano da história, estamos a navegar num momento tempestuoso e sente-se a falta de rotas corajosas de paz. Olhando com grande afeto para a Europa, no espírito de diálogo que a carateriza, apetece perguntar-lhe: Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo? E ainda, alargando o campo: Que rota segues, Ocidente? A tua tecnologia, que marcou o progresso e globalizou o mundo, sozinha não basta; e muito menos bastam as armas mais sofisticadas, que não representam investimentos para o futuro, mas empobrecimento do verdadeiro capital humano que é a educação, a saúde, o Estado social. Fica-se preocupado ao ler que, em muitos lugares, se investem continuamente os recursos em armas e não no futuro dos filhos. Investe-se mais nas fábricas de armas do que no futuro dos filhos”.

 

 

 

São palavras muito justas e adequadas. Há outras considerações não vindas diretamente da diplomacia do Estado do Vaticano, nem correspondendo literalmente ao pensamento de um digníssimo líder religioso global, que serão importantes.

Para onde vai o Ocidente?

Vamos ao passado.

No equilíbrio geopolítico mundial existente desde os meados do século xx, havia uma realidade mundial aparentemente imutável, em que o Ocidente alargado decidia e corporizava uma dominação arrogante em amplas frangas do território em África, na América do Sul e na Ásia. Aí imperava a hegemonia politica, a ameaça de intervenção militar, a unilateral influência cultural, a religião, o peso de um passado que, quer se queira ou não, não se podia apagar. A presença de potências europeias ao longo da História desses continentes deixara e perpetuara língua, fronteiras, costumes, rivalidades, escravaturas, dependências, soberanias limitadas, guerras.

 

 

 

As independências formais constituíram-se (percebe-se melhor agora!) em um caminho muito incompleto para garantir dignidade, direitos e verdadeiras autonomias, persistindo uma real colonização politica e económica, com domínio no cartel financeiro global dominante, com base sobretudo no dólar. A grande batalha do Cuíto Cuanavale, em Angola, um marco histórico, simbolizou o fim de uma era no continente, mas não fora suficiente para libertar o domínio colonial.

 

 

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A descolonização incompleta e a dependência contínua

 

África é um território rico em recursos agrícolas e minerais, sol e água. O seu desenvolvimento não se mostra adequado às esperanças da população, nomeadamente da população jovem. Muitos emigram e arriscam uma vida, sempre precária. Há em muitos líderes africanos, alguns dos quais jovens, a consciência da sua situação trágica e das razões para tal: um continente dividido, exaurido pela ganância de empresas multinacionais, explorado nas suas riquezas, não auto-suficiente em energias utilizáveis ou em alimentos.

 

 

 

 

Um novo século, novos parceiros

A África move-se agora velozmente em direção a um novo protagonismo liberto de amarras e do discurso de pedinte. As recentes cimeiras França / África e Rússia / África, com resultados diferentes, constituíram-se em palcos importantíssimos para os africanos na defesa de interesses globais e de afirmação de uma nova identidade política. Não foram mais cimeiras exóticas para tirar apenas fotografias de circunstância, em Paris ou Bruxelas. Para quem esteja verdadeiramente interessado, as provas estão em numerosos vídeos de intervenções dos inúmeros Chefes de Estado, e na sua atitude proativa. A política, a economia e os povos estão no centro de um relacionamento diferente. (CONTINUA)…

CR

 

 

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