08/11/2024, 11:23 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Todos nós adultos temos atitudes que servirão de exemplo para os mais novos. Digo tantas vezes que não basta falar, é preciso mostrar. O exemplo valerá certamente mais do que 1000 palavras.
Eu refiro-o muitas vezes na questão dos idosos: não chega dizer aos miúdos que devemos valorizar os mais velhos, se não o fizermos e mostrarmos no dia-a-dia. E esse é um dos motivos porque também procuramos fazer muitas atividades com os idosos: para se aprender a valorizar na prática.
Educar em comunidade
Bem me lembro de outrora, desde pequena, haver hábitos que estavam incutidos na comunidade. Oriunda de uma aldeia, ao domingo lá íamos nós (desde que nascíamos) à missa. Claro que havia sempre um ou outro bebé a chorar, mas se já fazia parte daquela comunidade, lá estava tal como os outros.
Lembro-me da tradição de jogar às cartas em casa dos meus avós paternos, logo a seguir à ceia (hoje jantar). Eu e o meu irmão lá comíamos a correr para descer à casa dos meus avós para a jogatana. Mas, antes disso, tínhamos que cumprir a obrigação de rezar o terço e lá o fazíamos religiosamente porque onde “cabia uma coisa, cabia a outra”, quer isto dizer, que se havia tempo para o lazer, também havia para rezar.
As festas da catequese (comunhão e afins) tinham a mesma importância que a catequese semanal e não havia maior enchente na missa por tais acontecimentos. Vá, íamos apenas um bocadinho mais bonitinhos.
Os pais ou avós levavam-nos à missa e encaminhavam-nos na fé, através do exemplo. Não nos obrigavam a ir se não fossem: iam connosco. Eram, a par com os catequistas, o pároco e restante comunidade os nossos guias.
Hoje, infelizmente, mandam-se os miúdos para a catequese quase por obrigação e as igrejas só enchem nos dias das festas, com crianças e familiares todos aperaltados, “para fazer o bonito”, e mostrando que a foto e o posterior almoço são o fundamental do dia. Regra geral é assim.
Exemplo das instituições
E, perdoem-me, mas muitas vezes o defeito começa em quem está à frente das instituições. Quando um “pastor” não acompanha o seu “rebanho”, quando o dirige à distância de um telefonema, email ou gabinete, na realidade não agrega a comunidade.
Bem me lembro do meu pároco, Padre Adriano, que envolvia as crianças, os jovens, os adultos e os idosos. Envolvia porque convivia com todos, porque os ouvia e partilhava histórias de vida. Partilhava e fazia parte da vida de cada um. É isso que nos faz sentir parte de uma comunidade.
Pegando no exemplo escolar, de que vale um diretor de uma escola incentivar os professores e as famílias a realizarem atividades envolvendo todos, se nunca participa também em nenhuma, ou se vai lá, por obrigação, a correr marcar apenas presença? Nunca conseguirá assim fazer parte integrante dessa comunidade.
O que quero dizer é que quando alguém está à frente de alguma instituição, tem o dever de dar o exemplo. Tem o dever de esgotar o seu tempo partilhando momentos com a comunidade, mostrando que isso é importante. Não é importante porque o diz em voz alta a todos: é importante porque lá está e nem o precisa dizer, já lhe reconhece importância pela sua presença e pelo tempo que ali gasta.
Faltam exemplos em quem dirige as instituições…falta o verdadeiro sentido de missão: servir e não servir-se! Reconhecer e não ser reconhecido…
Exemplos das famílias
Cá volto à questão das famílias. Cada vez mais as pessoas perderam o bom senso. Podem tudo: criticar, maltratar, enfim…são donas do mundo!
Vou partilhar aqui um facto verídico. Numa das greves do pessoal não docente, a escola não tinha capacidade de manter o normal funcionamento, e os professores tiveram que ligar aos pais para vir buscar os miúdos. Uma professora lá ligou a um pai e recebe como resposta do outro lado: “ Sois umas cabras”. A colega ficou estarrecida…e nem me vou alongar mais em relação a este comentário…
Olhando as redes sociais, que são piores que os antigos tanques públicos, vemos todos uns comentários fofinhos dirigidos a professores e funcionários, apenas porque ousaram, vejam lá, fazer greve! Têm direito à opinião deles, não têm é direito a usar linguagem abusiva!
Apenas dei estes exemplos, para justificar a falta de exemplos positivos de algumas famílias. Quando falam assim da instituição escola, como podem transmitir o exemplo de valorização aos filhos?
E é assim que os miúdos são educados, em relação à escola, mas em relação a tudo o resto: a criticar, a reclamar de tudo e de nada!
O espelho dos mais velhos
Na realidade, os mais novos são o espelho dos mais velhos. Observando o exemplo das famílias, que se acham sempre cheias de razão, que podem reclamar por tudo e por nada, dizer todo o tipo de palavrões, assim começam a ser formadas as personalidades dos mais novos. Vão crescendo, e discutem também eles com os pais, com os avós, com todos os que os rodeiam: sim, porque o exemplo que têm é que também são donos do mundo! Têm todos os direitos e são intocáveis!
Preocupa-me muito o futuro da sociedade e abordo esta questão várias vezes. Há cada vez menos sentido de comunidade, menos respeito, mais resistência a regras. Há cada vez mais crimes…mesmo que as pessoas não saibam que são crimes.
Faltam exemplos positivos, bons exemplos, exemplos de como viver em sociedade, exemplos de respeito.
Para onde caminhamos? O que será de nós, enquanto sociedade? Antevejo um caos maior…a ver vamos.
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