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Gazeta Paços de Ferreira

20/04/2024, 0:00 h

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“Mulheres do meu país”

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

A única referência que tenho de mulher a ir ao mar foi a Ti Clara, a acompanhar o marido, o que provocava comentários pouco abonatórios de outros pescadores sobre a falta de confiança em deixar a mulher em casa, sozinha… A Tia Clara, mulher que angariava algum sustento na apanha do sargaço, tinha fotografia e versos num dos bares de apoio aos banhistas na praia da Fragosa, propriedade de familiares.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

CULTURA

 

 

Com este título, de Raquel Freire, filha de poveiros, passou na RTP, formato mini-série, no Dia Internacional da Mulher, três episódios. Entrevistas de catorze mulheres das mais variadas profissões, idades e condição social que Raquel Freire foi buscar inspiração ao livro de Maria Lamas, As mulheres do meu país – editado pela Editorial Caminho, “mais de meio século depois da primeira edição…são um marco monumental do jornalismo e da literatura portuguesa do séc. XX” (do texto de abertura) – e que considera uma “visão profundamente feminista, de igualdade e liberdade”. Estas mulheres falam das suas vidas, de como ultrapassaram dificuldades e como chegaram à emancipação. “Quis conhecer as mulheres do meu país, que é muito melhor do que as elites que o governam”.

 

 

Comecei este texto já lá vão alguns meses. Retomo com a publicação, como originalmente em fascículos, da obra de Maria Lamas, de que me chegou o 11º, reservado numa tabacaria de Nelas onde compro o Público. Este fascículo tem capítulo A Mulher do Mar com fotos, uma de A. Carneiro com “uma mulher da Póvoa do Varzim com as filhinhas esperando o regresso do marido. …Sem instrução, criadas de pequeninas no maior desconforto e subordinando o seu destino às incertezas do mar, as poveiras, como as outras mulheres de pescadores, esperam sempre o pior. Isto dá-lhes uma índole especial, violenta e instintiva.”

 

 

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Também Aver-o-Mar merece referência: “nos dias de bonança as mulheres vão à pesca, sozinhas em pequenos barcos. Vem de antigas gerações este costume que as mulheres dali mantêm briosamente”. Como legenda de Foto de Alvão - uma imagem que ainda conheci - …Esta é uma das praias mais típicas, pelo seu panorama e pelos costumes locais, impregnados de tradição. O próprio nome desta pequena povoação de pescadores e moleiros (?), que o turismo não descobriu ainda, tem um sabor lírico, estático…”

 

 

Nunca ouvi falar destas mulheres- arrais, mais conhecidas em Vila Chã, da vizinha Vila do Conde. A única referência que tenho de mulher a ir ao mar foi a Ti Clara, a acompanhar o marido, o que provocava comentários pouco abonatórios de outros pescadores sobre a falta de confiança em deixar a mulher em casa, sozinha… A Tia Clara, mulher que angariava algum sustento na apanha do sargaço, tinha fotografia e versos num dos bares de apoio aos banhistas na praia da Fragosa, propriedade de familiares. Surpresa e tristeza nos trouxe o seu desaparecimento, memória duma mulher tão conhecida naquela praia que frequentávamos desde os anos sessenta… A Ti Clara perdeu três filhos no mar, Manuel, Jardelino e o Quim (da Clara), tragédias descritas por Eduardo Travessas no livro, que prefaciei, Rema Parente que lá fora vem mar – Tragédias marítimas das gentes de Aver-o-Mar.

 

 

 

 

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