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Gazeta Paços de Ferreira

16/11/2024, 15:39 h

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Jogos de tempos passados

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

Havia jogos violentos, é conhecida a violência na história do homem, a aldeia idílica era mitificada.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

Oh! tempus, oh! mores … outros tempos, outros costumes, não muito brandos como queriam fazer de nós, mansos. Havia jogos violentos, é conhecida a violência na história do homem, a aldeia idílica era mitificada. Exemplo de violência gravada na memória era o entrudo na minha aldeia, os bandos de mascarados, violentos, causavam-me medo, que me retinha em casa.

 

 

Sem televisão, a rádio era companhia, relatos dos jogos de futebol, aos domingos, pelas três em ponto, as novelas radiofónicas com bons intérpretes e efeitos especiais, o vento, as portas a bater, a chiar, gemer nos gonzos, o galope do cavalo. Serões para os trabalhadores integravam o ideário estadonovista. Na política, Varanda da Europa. O hóquei em patins era rei na generalidade da pobreza das outras modalidades. Como dizia um comentador, era jogo de três, quatro países, Portugal, Espanha, Itália e recentemente, Argentina.

 

 

Dos muitos jogos que nos ocupavam dou privilégio à Estrancela cuja lenga-lenga agora misturo com o Eixo, rebaldeixo, baldoeixo. Uma na mula, dois a relógio seriam da estrancela. A linguagem sem peias manifestava-se nas versões do sete, desde o explícito tua mãe abre, teu pai mete, ao quem tem, tem, quem não tem não mete, passando pelo sete escarrapachete, quem tem bicha tem, quem não tem não mete.

 

 

 

 

Violência da lenga-lenga: dez, corri o teu pai pela escada abaixo aos pontapés; as contas também apareciam: doze, escarradoze, vinte e quatro com catorze, dezasseis com vinte e um, faz um cento menos um.

 

 

Alguns saltos (sobre rapaz agachado com as mãos nos joelhos) exigiam agilidade – quatro, quanto mais alto vai à serra, ou o treze, ex-porradinha, ou noutra versão, treze, cortar a melancia, catorze, é pelos dois lados; mas ir buscar prá manica, ao pé coxinho, ao fontenário próximo, não era fácil; logo a seguir era imperioso botar a escupa fora. O dezassete era mais completo: escrever a carta à namorada, ponto final; molhar a pena no tinteiro (que levava a retracção do cujo), selar, estampar e carimbar. O fim era apoteótico: Viva a República! Antes reverenciávamos os chefes, cujos nomes não quero lembrar.

 

 

O agarra exigia corrida e agilidade para o engano, a finta de corpo; a péla, origem poveira que o etnólogo Santos Graça tão bem descreve, jogava-se na 2ª feira pascal, jovens e adultos. O pião era rei no seu tempo, mas havia também a zocha, mais arredondada, o pião de bico de lanço, próprio para agredir o outro que se encontrava dentro de círculo alargado; a mestria consistia em bicar o pião que estava dentro e fazer saltar o nosso  para fora da área delimitada.

 

 

Outros tempos, agora parecem zombies, telemóvel na mão.

 

 

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