25/04/2025, 9:26 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Na semana antes da Páscoa, sem componente letiva, tive um pouco mais de tempo para me perder nas leituras e nas redes sociais.
Para mim é inevitável não acompanhar vários grupos de professores ou ligados à docência, apesar de apenas consumir a informação que é partilhada e raramente opinar. Contudo, confesso que com mais um bocadinho de tempo livre, e com a personalidade que tenho, lá acabei por me meter e opinar em alguns assuntos.
Contudo, tal como defendo sempre, comentários em redes sociais, valem o que valem: felizmente não são estes “os órgãos” onde se decide nada…
Diretores: os maus da fita
Também na comunicação social e em vários jornais nacionais de referência, tal como nas redes sociais, muito se tem falado na questão dos Diretores das Escolas. Ressalvo que os Diretores também são, (e bem!), docentes. No entanto, raros são os que têm componente letiva, embora a lei o permita.
A temática dos Diretores tem andado na ordem do dia, até porque muitos estão em final de mandato, e cerca de 200 cumpriram os mandatos possíveis. Neste caso terão que voltar a dar aulas ou então, como alguns estão a fazer, concorrem ao cargo de Diretores para outro Agrupamento.
É exemplo disso Filinto Lima, bastante conhecido, por ser o presidente de uma Associação Nacional de Diretores. Filinto Lima concorreu a outro Agrupamento e venceu três outros candidatos. Foi escolhido pelo Conselho Geral, órgão abrangente que integra comunidade escolar e local, e que tem a competência de escolher o Diretor.
Bem, mas voltando à polémica…
Nas redes sociais vai um ataque feroz aos Diretores de um modo geral. Há quem lhes chame “tiranos”, autoritários e por aí fora. São os donos da Escola que escravizam toda a gente que aí trabalha. Pedem um novo modelo de gestão, com mandatos ainda mais limitados e uma escolha do Diretor por parte apenas dos que trabalham na escola: docentes e pessoal não docente (assistentes).
O Diretor e os seus poderes
Pois bem… o Diretor tem obviamente poderes, mas não é o senhor todo poderoso! A maior parte das decisões da Escola têm que ser aprovadas por outros órgãos.
Praticamente todas as decisões pedagógicas são aprovadas por um órgão – o Conselho Pedagógico – cujo Diretor preside, mas que integra todos os coordenadores de Departamento e ainda os coordenadores das principais estruturas. Esses coordenadores apresentam sugestões dos respetivos departamentos e representam muitos outros docentes: todos os da Escola. Têm direito a voto e cada um vota por si. Se não concordam com a posição do Diretor, devem votar em conformidade. E ainda existe democracia nas escolas…e deve ser refletida nas atas de todas as reuniões formais.
Outra das críticas ao Diretor é o de avaliar mal os docentes. Ora, num total de 100 docentes, avalia no máximo 10, que são os coordenadores de departamento. Quem tem a função de avaliar os docentes são os Coordenadores de Departamento e não o Diretor. Posteriormente, o Diretor integra uma comissão formada por mais 4 docentes e limitam-se a ordenar as notas dadas pelos coordenadores.
O Diretor não é nem de longe, nem de perto, o senhor todo poderoso nas escolas… mas é quem deve prestar contas!
Se os que devem falar se calam e o Diretor decide, de quem é a culpa? Há que assumir culpas!
Lideranças intermédias
Na minha opinião, para que um Diretor não seja o Todo Poderoso, cada um tem que conhecer bem a Lei e aplicá-la. Cada um tem que exercer bem as suas competências. E começa em cada docente, que deve saber os seus direitos, mas também deveres; que deve nos órgãos que integra dar a sua opinião, e saber chegar a consensos, sempre com a missão de fazer o melhor para a instituição que integra, o que nem sempre é o melhor para si próprio.
E aos órgãos em que se decide a vida da Escola, em que se tomam decisões, devem chegar propostas legais, viáveis e produtivas. Só assim o Senhor Diretor não é o Senhor Todo Poderoso, porque há decisões colegiais que são votadas por todos, e o senhor Diretor é só um. Ainda vivemos em Democracia…
Falo com conhecimento de causa. Não há Diretor que seja Tirano comigo, nem autoritário. E como escrevi numa rede social (que não muda nada, mas pelo menos desabafei), ninguém me obriga a fazer nada que seja ilegal! Mas também, e quem me conhece sabe, opino em todos os sítios em que o devo fazer, nomeadamente nos órgãos que integro e faço questão de sugerir e, sempre que necessário, votar contra algo que não considero legal ou viável, nem que seja a única e faço questão que fique em ata.
Política nas escolas
Outra crítica feita às escolas é que esta está “minada” pela política, porque há Diretores ou docentes que integram partidos ou os apoiam. Pois bem: tirando o que vem do Ministério, e que é decretado pelo Governo, e que somos obrigados a cumprir (é político), tudo o resto, é na maioria decidido pela Escola e não pelas forças políticas.
Cada um é livre – chama-se democracia – de apoiar quem quiser, de integrar as listas que bem entender. Não pode é ficar refém nas suas decisões. A sua posição nos órgãos que integra deve ser isenta, imparcial, e as suas sugestões devem apenas e tão só contribuir para a melhoria da Instituição a que pertence.
Fora do seu trabalho é livre na sua ação; dentro tem o dever de pautar o seu comportamento pelos princípios da boa-fé, da transparência e da ética profissional.
Eu, docente há 27 anos, me confesso: a minha política é a Escola e tudo farei para que a minha Escola, e a Escola Pública em geral, caminhe sempre no rumo da melhoria e sem amarras.
Aos meus colegas, que me leem e que provavelmente também se lamentam no dia-a-dia de alguns Senhores Poderosos, deixo-lhes um desafio: proponham dentro do que a lei permite, não fiquem à espera que a hora das reuniões passe; não se limitem a lamentar cá fora: sejam agentes de mudança; não se permitam ser vítimas de um Sistema, onde podem ser Atores!
Se não decidem nada no sítio certo e não propõem, alguém vai decidir por vós! Ah…mas depois não se lamentem, nem critiquem… É que parece que estamos sempre descontentes com tudo e com todos, mas não agimos em conformidade.
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