11/08/2021, 11:26 h
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As medalhas da amizade
Portugal investe milhões de euros e milhares de horas anuais no desporto rei, o futebol. E neste capítulo, o nosso concelho não foge à regra! O foco é o futebol, contudo tal como um pinheiro, ele vai crescendo e secando tudo em seu redor. E é nos solos pobres e abandonados que habitam todos os outros desportos, entre os quais o atletismo, o único desporto em Portugal que trouxe medalhas de ouro dos Jogos Olímpicos. Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora, os únicos medalhados em ouro da história lusa nos territórios olímpicos.
Perante este cenário, como podem os portugueses exigir medalhas aos atletas olímpicos? Se a exigência fosse sobre os futebolistas, seria compreensível, mas sobre os atletas das outras modalidades esquecidas e relegadas para terceiros e quartos planos, é no mínimo abusiva!
Mas os Jogos Olímpicos não se escrevem apenas com medalhas, aliás nos jogos da Grécia Antiga, os vencedores nem medalhas recebiam. Num misto de evento desportivo e religioso, a nação helena parava para ver os seus homens nos jogos. Os vencedores recebiam coroas de oliveira, não porque Zeus fosse pobre ou forreta, mas porque estes homens brigavam principalmente pela sua honra e pelo seu prestígio, que lhes poderia valer no futuro umas quantas refeições gratuitas, uns poemas e umas esculturas em sua honra. Os jogos apenas admitiam homens, e esta era uma das razões para os homens nas corrida e nas lutas o fazerem desnudados. Porque apresentando-se sem roupas seriam facilmente identificados como homens. Embora houve um dia, em que uma mulher entrou nos jogos. Chamava-se Kallipatira, e era mãe de Psirodos, um campeão em pugilato. Vestida de treinador entrou no recinto à socapa, e assistiu à vitória do filho. Mas levada pela emoção da glória, deixou cair as suas vestes e foi descoberta. Mas teve a sorte do seu filho ser um notável campeão, e a sua vida acabou sendo poupada. Contudo a partir desse dia, os treinadores também foram obrigados a apresentarem-se nus…
As medalhas como símbolo da vitória desejada por todos os atletas, apareceram apenas na era moderna, nos primeiros jogos realizados em 1896 em Atenas. Mas os vencedores apenas receberam medalhas de pratas, e os segundos classificados medalhas de bronze. O ouro apenas foi introduzido em 1904 em St. Louis nos Estados Unidos, dando ao mundo a imagem das medalhas de ouro, prata e bronze como habitualmente as conhecemos.
Mas em 1936, nos jogos de Berlim, dois japoneses deram a conhecer uma medalha única, que imortalizou uma história de amizade. Shuhei Nishida e Sueo Oe eram dois atletas do salto com vara e acima de tudo eram dois grandes amigos. Após o americano Earle Meadows ter ultrapassado a marca dos 4,35m e obtido a medalha de ouro, restaram em prova os dois japoneses, que estavam a saltar para a marca de 4,25m, que lhes valeria as medalhas de prata e de bronze. Mas a amizade entre eles estava acima de tudo, e de forma inusitada, recusaram-se a saltar para decidir quem ficaria em segundo e em terceiro. A organização rejeitou, o pedido de partilha do lugar do pódio, e obrigou-os a decidirem entre os dois quem levaria a prata e o bronze. Mas eles estavam intransigentes, e então os juízes obrigaram a equipa a atribuir os lugares, acabando por ficar em segundo lugar Nishida e em terceiro Oe. A cerimónia das medalhas foi registada pela camara de Leni Riefenstahl, mas os saltadores japoneses não ficaram agradados com a atribuição das medalhas. Chegados ao Japão, tiveram uma ideia! Pediram a um joalheiro para cortar as duas medalhas a meio, para depois as unir de novo com uma metade de prata e outra de bronze. E assim cada um deles ficou com uma medalha de prata e bronze, ficando estas medalhas conhecidas como as ‘medalhas da amizade’! Curiosamente há dias, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, ocorreu situação similar, com dois atletas de salto de altura Gianmarco Tamberi de Itália e Mutaz Essa do Bahrein, que após saltarem os dois 2,37m, decidiram não saltar mais, contudo desta vez cada um recebeu uma medalha de ouro!
Voltando e encerrando em Portugal, esperemos que a metade da ‘medalha’ feita de exigência, seja unida com uma outra metade de ‘medalha’ feita de investimento e aposta!
Ricardo Neto
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