30/08/2024, 0:00 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
COMENTÁRIO - EDUCAÇÃO
Longe vão os tempos em que havia as famosas férias grandes, ou seja, as férias de verão. As aulas terminavam no início de junho e regressava-se à escola no início de outubro. Agora vai-se prolongando o calendário escolar e as aulas terminam no final de junho (pelo menos para os mais novos) e em setembro começa-se cada vez mais cedo.
Assim será este ano: o Ministério pediu às escolas que começassem logo a 12 de setembro e acredito que isso vá acontecer.
Excesso de Escola
Antigamente, a Escola tinha funções mais específicas: essencialmente ensinar. Pois já referi noutros artigos que as funções da escola, atualmente, são tão abrangentes que ensinar quase se dilui no meio das outras. O papel que o Estado lhe foi atribuindo é mesmo o de ocupação ou guarda das crianças, enquanto os pais trabalham. É esse sentido que encontro, também, com a ideia da Escola a tempo inteiro.
Já referi também várias vezes que muitas crianças entram na escola às 7h30 e algumas lá ficam até por volta das 19h/19h30. Acabam as aulas e mantêm-se, nomeadamente as do Jardim de Infância, durante as interrupções letivas, ou seja, durante as férias. Este ano, mediante comprovativo de situação de trabalho, os pequenotes estiveram assegurados até dia 14 de agosto, no nosso concelho. Na realidade, estes miúdos terão 15 dias de férias, pois dia 2 de setembro, provavelmente, regressarão ao mesmo espaço, com a abertura dos serviços de apoio à família.
O Papel das famílias
Também já abordei a questão do papel das famílias, atualmente, na educação dos filhos. É certo que os pais trabalham, os avós também e o suporte familiar é cada vez mais pequeno. Contudo, infelizmente, os papéis inverteram-se! Antigamente, as crianças iam à escola aprender a parte académica e regressavam às famílias, onde aprendiam todas as outras competências. O tempo passado na escola era claramente inferior ao que era passado em família. Atualmente, é completamente ao contrário e pouco é o tempo que se passa em família e, quase me atrevo a dizer que há muitos casos, em que diariamente não se está com os filhos mais do que 2h, até porque os miúdos têm outras atividades após a escola. Talvez por isso seja frequente que a visão da escola (professores) e família sobre algumas crianças/alunos seja frequentemente distinta, pois não há conhecimento suficiente e global dos filhos.
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Inversão dos papéis
Cada instituição deve assumir o seu papel. O Estado, do meu ponto de vista, falha e está a negligenciar ou a contribuir para a negligência das famílias. Sei que alguns me vão “cair em cima”, mas é a minha opinião. O Estado deve contribuir para que as famílias tenham melhores condições para acompanhar os seus filhos, para que os criem. Não deve assumir esse papel.
Estão criadas as condições para que haja apoio às famílias que trabalham, e por isso há acolhimento (antes da escola começar) ou prolongamento (depois que termina). Mas esses serviços apenas deveriam ser acessíveis àquelas crianças cujos pais comprovassem documentalmente necessitar desse acompanhamento. E o mesmo se aplica nas interrupções letivas e nas férias escolares.
Esta é a minha opinião e entro frequentemente em conflito com a minha filha que me diz: mãe, não achas que há crianças que estão melhor na escola, do que em casa? Que pelo menos são melhor acompanhadas e que pelo menos comem? Respondo sempre: claro que sei! Mas também respondo: é necessária formação parental! É necessário ensinar as famílias mais frágeis a serem famílias e a cumprirem com a obrigação da família! Se alguém continuar a cumprir o seu papel, nunca o vão fazer!
Aproveito para partilhar o caso de um casal que me deixou a pensar há uns tempos. Ambos trabalham por turnos, no mesmo local, e a mãe comentou o seguinte: optamos por fazer turnos desencontrados, pois assim um de nós está sempre livre para o trazer à escola e o outro para o vir buscar. Pelo menos enquanto for mais pequeno faremos assim. Eu pensei: abdicaram de certa forma do bem estar do casal em prol do bem estar do filho…comungo dessa opção. Às vezes é uma questão de se abdicar em prol do que é prioritário…e no meu ponto de vista devem ser os filhos, enquanto pequenos.
Fatura a pagar
A Sociedade em geral vai pagar caro este distanciamento entre as famílias. Há bastante tempo atrás li num artigo algo do género: “Metem os filhos nas creches, os pais nos lares e vão passear o cão”. Foi das expressões que mais me chocou. Mas se olharmos bem à nossa volta… triste destino nos esperará…
Quantos idosos acabam por ir também para Centros de Dia, para evitar a solidão, sendo ainda pessoas bastante úteis e até dinâmicas. Como seria bom que muitas crianças no final da escola e nas férias pudessem regressar a casa desses avós, bisavós, tios mais idosos…até vizinhos! Falta fomentar novamente os hábitos do cuidar em família: os mais velhos dos mais novos, os mais novos dos mais velhos. Emocionalmente teríamos as duas gerações dos extremos bem mais saudáveis, certamente. Quantas histórias haveria a partilhar…quanto amor a cultivar…
Como poderemos esperar um dia ser cuidados, se não cuidamos o suficiente, ou não dermos o exemplo?
Para finalizar, antes do ano começar, sei, vejo e ouço as preocupações de muitos com a gestão do horário dos miúdos: já se sente uma ansiedade terrível!
Aproveitem, e antes de os ocuparem em tudo e mais alguma coisa, pensem em como a Infância é a melhor fase das nossas vidas e em como deve ser vivida. Pensem que mais importante do que ter muitas atividades, é ter tempo para brincar, para ser criança; é nesta fase que se interiorizam valores tão importantes para a vida e onde mais tarde os podemos ir repescar.
E pensem no tempo que eles passam na escola: não a tornem no seu local de trabalho com horas extra, e a família o espaço de ATL (animação de tempos livres). Às vezes pode não ser tão confortável outra opção, mas talvez haja opções que a médio prazo tragam frutos mais proveitosos.
Compete-nos a todos mudar o estigma de individualismo que a Sociedade está a seguir…
Bom ano letivo a todos!
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