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Gazeta Paços de Ferreira

20/12/2024, 0:00 h

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“A Solidariedade é o que nos torna Humanos”

Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA

EDUCAÇÃO

Esta foi a frase que mais me marcou esta semana. Será que nos estamos a tornar mais ou menos humanos?

Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)

 

Procurando o significado da palavra, aparece-nos que é um ato de bondade e compreensão com o próximo ou um sentimento; pode ainda ser cooperação entre duas ou várias pessoas, entre outros significados.

 

 

Atos solidários

 

 

Frequentemente aparecem campanhas de solidariedade, até na televisão ou redes sociais. Nestes casos, por norma, pede-se a solidariedade do próximo através de bens monetários. Esta até será, talvez, a forma mais fácil de ser solidário. É quase como a solidariedade com os sem-abrigo ou até “arrumadores de carros”: damos uma moedinha e já está. Seguimos na convicção de que cumprimos a nossa obrigação ou até de que fizemos o que o nosso bom coração nos incita a fazer.

 

 

Quando há uma campanha de recolha de alimentos nos supermercados também mostramos a nossa generosidade e lá entregamos um saquinho com alguns bens alimentares.

 

 

Não faltam ocasiões para termos um ato solidário pagando alguns euritos, se necessário for.

 

 

Ah…e atualmente as recolhas de bens alimentares já abrangem também os animais, com quem temos (ou devemos) ser solidários. Posso referir que na minha escola, (e provavelmente noutras também), no último mês recebemos a solicitação para fazermos 2 recolhas para animais e 1 para pessoas.

 

 

Humanos versus animais

 

 

Confesso que gostando de animais, gosto e devo gostar muito mais de pessoas! Não me agrada de forma nenhuma que haja animais a passar mal, que sejam mal tratados, mas acho inconcebível que o mesmo aconteça com qualquer ser humano.

 

 

E não deixo de pensar muitas vezes que realmente algo se passa com a Sociedade: é mais fácil ser solidário com os animais ou com os humanos? Basta ver, por exemplo, nas partilhas nas redes sociais relacionadas com animais ou com pessoas com necessidades e verificamos que se atinge mais facilmente um número elevado de partilhas no primeiro caso. Aliás, é frequente quando surge um pedido para Humanos, haver comentários logo de julgamento sobre a vida das pessoas… facilmente surgem opiniões sobre a justificação das causas que levaram a que essas pessoas estejam em situação de necessidade…

 

 

Vi também esta frase na semana passada “Quem julga as pessoas, não tem tempo para amá-las”, da Madre Teresa. Pois bem: há infortúnios que vêm sem avisar e Deus nos livre deles!

 

 

Mas para terminar este tópico: por muito eu goste de animais, enquanto houver perto de mim uma pessoa que precise de comida, será óbvia a minha escolha…

 

 

E neste momento em que os bens alimentares não estão propriamente baratos, acredito que algumas pessoas terão que optar entre alimentar a família humana em detrimento da animal, pois o dinheiro não chega para tudo.

 

 

 

 

Solidariedade grátis

 

 

Há aquela solidariedade que todos podemos ter, sem que envolva custos monetários, que todos podem implementar. São os atos de bondade de forma simples e genuína que não custam dinheiro, mas que parece serem menos aplicados. A questão de dar 1 € a alguém que pede, não nos torna muitas vezes generosos; é mais uma forma de nos convencermos e de acharmos, na nossa consciência, que o somos.

 

 

Mas há aqueles atos de solidariedade que nos tornam muito mais humanos: visitar os doentes, idosos, os mais solitários… Ouvir as suas histórias, partilhar momentos com eles, ouvir os seus desabafos, torna-nos humanos porque é um ato que envolve sempre reciprocidade: damos, mas também recebemos. E nalgum momento nos mexe com os sentimentos, mais que não seja, quando por breves segundos nos passe pela cabeça a possibilidade de estarmos do outro lado.

 

 

Educar para os afetos

 

 

Esta é uma expressão bonita e usamo-la frequentemente em contexto escolar. Ultimamente também está na moda a educação emocional. Como se educa para os afetos ou se implementa a educação emocional? Já haverá manuais? Podemos sempre ler artigos de ilustres psicólogos, pedopsiquiatras e afins…

 

 

Na minha opinião não há outra forma de educar que não seja em contexto, no terreno. Digo muitas vezes que não há palestras que consigam transmitir o suficiente…não há teoria que seja suficiente para mudar a prática. Não se ensina a valorizar os mais velhos com palavras bonitas: “palavras leva-as o vento”. Ensinam-se todos esses conceitos no terreno. Nem se ensinam: desenvolvem-se, apropriam-se! Ninguém tem sentimentos de afetividade genuína por um avô que vê uma vez por ano, é necessária proximidade.

 

 

E por isso, numa Sociedade em que já percebemos que há carência de afetos e fragilidades emocionais, é importantíssimo que se criem momentos periódicos em que seja possível desenvolver e gerir emoções e afetividade.

 

 

A Escola, sobrecarregada de funções, tem que acarretar mais esta. E, por isso, são importantes as atividades com instituições, nomeadamente da terceira idade; aproximar as gerações dos mais novos com as dos mais velhos, nomeadamente centros de dia e lares. É um ato de solidariedade que traz benefícios para ambas as gerações e que ajuda a Humanizar a Sociedade.

 

 

Para finalizar, devo referir que em breve cada Centro Escolar terá uma creche e que será importante para as famílias. Mas sabem o que seria importantíssimo mesmo? Que próximo das escolas, ou até no mesmo edifício, se situassem os Centros de Dia, ou até lares. Que fácil seria desenvolver e potenciar uma convivência natural e profícua. Eu sei que é utópico…mas que seria importante, seria!

 

 

E como esta é a última edição antes do Natal, desejo a todos umas excelentes festas, se possível solidárias, daquilo que o dinheiro não consegue comprar.

 

 

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