24/01/2021, 16:49 h
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Num exercício de comparação da Religião da nossa crença com a Política da nossa descrença, penso estarmos numa encruzilhada à espera de clarificações em forma de luz verde para seguirmos caminho seguro evitando práticas políticas ofensivamente submetidas à Economia, à Alta Finança e às Élites.
A Globalização sobrevalorizou o dinheiro, atribuindo à Economia um lugar que não merece. Na História começamos por valorizar Deus; e depois o Homem… colocando-os no centro do Universo, e os dois tinham alma, o que lhes conferia valor. Hoje, o centro do Universo é ocupado pela Economia sem rosto e sem alma, o que provoca um grande mal-estar em todas as sociedades que se sentem exploradas por ela, e a Religião (Deus) acaba por ser um portal de refúgio dos desafortunados do costume (a maioria de nós).
Tal como acontece com este tipo de Economia malvada de que é urgente libertarmo-nos, também é urgente que cada um de nós entenda Deus como aquilo que realmente é: um “conceito civilizacional” que reina dentro da cabeça dos crentes, e não uma entidade real exterior ao nosso pensamento, derramando benesses sobre nós quando vamos à missa, e picaretas quando não rezamos!…
Neste exercício de comparar Política e Religião, direi que ambas se dedicam a interagir com os povos. Uma, nas coisas práticas da vida, através do processo chamado Democracia (na Ditadura não há interacção); e outra nas coisas menos práticas da vida, mais espirituais, tendo a crença como ferramenta gestora.
A Política desta Democracia, tal como é praticada, está inquinada. Precisa de grande remodelação. A Democracia transformou-se em manta de retalhos que agasalha interesses nada democráticos, deixando que se explore quem devia proteger e favorecendo grupos económicos.
Quando o mundo era regido por dois sistemas antagónicos – o Capitalismo e o Comunismo – havia um equilíbrio que foi destruído quando a Rússia e a China abraçaram um Capitalismo autoritário a par de um Capitalismo liberal do ocidente, igualando os interesses do patronato, promovendo o abandono dos trabalhadores, e a maioria de nós ficou mais pobre.
Este modelo de Democracia permitiu o crescimento da ideologia de extrema-Direita xenófoba, desrespeitadora de todos nós e transformada numa ameaça real, e o Capitalismo acabou por ser o único sistema económico mundial. As nossas vidas tornaram-se mais precárias e menos protegidas (empurrando os menos atentos para o encontro com a maldosa extrema-Direita xenófoba).
No Forum Económico Mundial de Davos, realizado em Janeiro de 2020, com o lema “Grupos de Interesse para um Mundo Coeso e Sustentável”, reuniram-se os líderes dos países mais poderosos, e o protesto dos grupos representativos do Povo explorado foi impedido por cordões de polícias. Do encontro resultou o reconhecimento de três tipos de Capitalismo para estudo:
1 - O dos accionistas, para os quais o objectivo primeiro das empresas é a maximização do benefício empresarial (e todos sabemos que tal maximização significa a minimização dos trabalhadores);
2 - O Capitalismo de Estado com eficaz organização do sector público para manter em boa rota social a direcção da Economia (como na Coreia do Norte e na China, autoritárias e anti-democráticas, produtoras de cidadãos-autómatos?… Se for… não quero, obrigado.);
3 - O Capitalismo da ganância particular, no qual as empresas privadas são as administradoras da sociedade (e voltamos à escravatura!).
A actual interacção da Política e da Religião com os povos, merece-me esta apreciação: A política que vejo ser praticada é constituída por uma oligarquia (a classe política) que (se) governa no fingimento de que (nos) governa. Dizer que o Povo está representado no Parlamento é uma figura de estilo criada por este tipo de democracia inquinada, onde metade dos cidadãos se abstém de votar, e os líderes políticos não se envergonham!…
O Povo nunca é considerado nas decisões dos políticos em exercício de governo. A ditadura “democrática” da Economia e da Alta Finança domina a Política impedindo, ou dificultando, uma Economia Social. As sociedades desenvolvem-se à volta do valor artificial do dinheiro, enaltecendo quem o tem e desprezando quem o não tem. O dinheiro nada vale comparativamente com a dignidade humana, mas neste tipo de Capitalismo que nos oprime, é mais importante um ignorante rico do que um sábio pobre… o valor nunca é o da pessoa e do seu intelecto, mas sim o saldo da sua conta bancária.
O refúgio para nos enganarmos, imaginando que escapamos desta trama montada para nos explorar, está na Religião… que funciona como o Clonix para abrandar a dor de dentes… mas não cura a cárie que a provoca!…
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
ONOFRE VARELA
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