06/03/2021, 1:29 h
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Certo dia uma mulher caiu, mas apesar de estar num hospital e ferida, não se encontrava no local apropriado!
A sua condição de ser humano a necessitar de ajuda, não foi argumento suficiente para se sobrepor à sua condição de mulher pobre e sem seguro de saúde.
E o insólito aconteceu.
Chamaram o 112 para que a mulher pobre e sem seguro fosse humanamente assistida num hospital público.
Seguiu-se o debate nas mais variadas ‘praças’, com muitos comentadores a pesar os seus argumentos na balança do lucro e do prejuízo, questionando a gestão da saúde.
Confesso que não consigo pensar no problema da mulher caída como um problema político-financeiro.
Um ser humano não terá mais valor que uma milésima de lucro?
Para melhor entendermos esta questão, peço que subam para o comboio com destino a Kyū-Shirataki, em Hokkaido no Japão.
Façam o favor de se sentarem comodamente, pois só iremos parar no dia 25 de março de 2016. Este é um dia especial para a esta estação, é o dia do seu fecho!
A migração das populações para as grandes cidades, a baixa natalidade japonesa e as inovações tecnológicas na ferrovia, fizeram com que muitas estações de comboio espalhadas por zonas rurais fechassem por falta de viajantes.
Mas não vos trago aqui por este motivo, trago-vos até aqui para que vejamos partir pela última vez um pequeno comboio com apenas duas composições, transportando uma única viajante.
São 7h15 da manhã, e Kana viaja pela última vez para a escola secundária.
A empresa gestora da rede ferroviária decidiu fechar esta e outras estações em 2013, contudo, ao saber que existia uma aluna que utilizava o comboio, a empresa adiou o seu fecho até que Kana concluísse o secundário.
Nesta decisão colhemos uma importante lição: as pessoas afinal importam!
Mesmo quando estas não têm seguro de saúde, mesmo quando a estação de correios dá prejuízo, mesmo quando o comboio viaja apenas com uma aluna, as pessoas importam!
Andamos demasiado distraídos e manipulados nesta sociedade embebida no mais refinado consumismo, e depois esquecemo-nos do que realmente importa, e do que realmente nos faz humanos.
Num outro dia, o escritor John Lane, seguro de si e sem tropeçar, escreveu que um industrial ficara horrorizado ao ver um pescador deitado junto do seu barco enquanto fumava cachimbo, e lhe perguntara:
- Porque não estás a pescar?
- Porque hoje já pesquei o necessário! – disse o pescador.
- E porque não vais pescar mais?
- E o que faria com os peixes? – espantado com a resposta do pescador, o industrial retorquiu:
- Conseguirias mais dinheiro, e com ele comprarias um motor para o teu barco. E assim poderias ir para águas mais distantes e pescar ainda mais peixes. Depois comprarias redes mais fortes, e teriam mais peixes e mais dinheiro. Logo depois terias dinheiro para outro barco, ou mesmo para uma frota de barcos, e no final, serias rico como eu!
- E depois o que faria?
- Depois… poderias sentar-te e aproveitar a vida!
- E o que achas que estou a fazer?…
Ricardo Neto
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