21/03/2021, 1:31 h
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Para lembrar o Dia Internacional da Mulher, a Lego decidiu lançar uma edição comemorativa sobre Amelia Earhart, a grande pioneira da aviação.
Contudo esta corajosa mulher, que conseguiu voar sobre o oceano Atlântico, nunca conseguiria aterrar num certo lugar.
Não porque seja impossível, mas porque ela era mulher.
Mesmo Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço, também não iria conseguir pisar a terra deste lugar, não por ser um lugar inalcançável, mas apenas por ela ser mulher.
Esse lugar chama-se Monte Athos, e fica na península Calcídica na região da Macedónia, na Grécia.
Este monte envolto em muito misticismo é Património Mundial da UNESCO, e goza de autonomia própria perante o governo grego, sendo administrado pela Igreja Ortodoxa Grega… e tem a particularidade de ser habitada e visitada apenas por homens!
A sua origem, segundo a mitologia, provém da guerra entre os Deuses e os Gigantes. Gaia, a deusa-mãe, após ver os seus filhos Titãs serem derrotados por Zeus, convocou os seus outros filhos, os Gigantes para lutarem contra os Deuses. Numa dessas batalhas, o gigante Athos arremessou uma enorme pedra sobre Zeus, mas este rebateu-a e ela foi cair junto à costa macedónica, nascendo assim a chamada Montanha Sagrada ou Monte Athos.
Nesta península do Monte Athos, ao longo dos tempos foram nascendo muitos mosteiros de várias ordens religiosas. No seculo XI existiam 46 mosteiros, que para além de gregos, albergavam religiosos georgianos, russos, arménios, italianos, sérvios e búlgaros entre outros.
E para garantir que o celibato dos religiosos ali presentes não é abalado, as mulheres para além de não poderem entrar nos mosteiros, estão proibidas de pisar o Monte Athos e apenas se podem aproximar até 500 metros da costa.
Mas este não é o único motivo da proibição total das mulheres neste lugar, há outro motivo ainda.
Rezam as lendas que Maria, Mãe de Jesus, numa viagem até ao Chipre, se desviou da rota e desembarcou em Athos, e ao ver o lugar onde estava, o amou de tal forma que pediu ao Seu Filho que Lho concedesse, sendo o pedido concedido.
Ainda hoje o lugar contemplado por Maria se chama Jardim da Mãe de Deus.
A interpretação da presença de Maria em Athos fez com que no século X, fosse determinado que Maria representaria a presença feminina na península, e para além da proibição das mulheres, também todas as fêmeas de todas as espécies animais estariam proibidas.
Há no entanto duas excepções: os animais selvagens, por serem impossíveis de controlar; e os gatos, por serem excelentes caçadores de ratos.
Todas as outras espécies domesticadas, do género feminino, estão banidas deste lugar até hoje!
Contudo esta regra traz os seus entraves, sem poderem ter galinhas, vacas, patas, coelhas, porcas, ovelhas, cabras e outras espécies domésticas, os monges são obrigados a importar produtos como ovos, leite, queijo e outros…
Apesar das regras continuarem a ser muito apertadas para o género feminino, em tempos ainda o foram mais. Com o risco de alguma mulher querer passar-se por eunuco ou por criança, no tempo bizantino, só poderiam entrar em Athos homens de barba… (seria o único momento em que ter barba me seria útil)
Até hoje, apenas por 3 vezes houve mulheres a pisar o solo da Montanha Sagrada.
A primeira foi durante a guerra civil grega, com camponeses (incluindo mulheres) a refugiar-se neste lugar, depois em 1953 uma mulher grega chamada Maria Poimenidou vestiu-se de homem, e visitou o monte durante três dias, após este incidente foi estabelecida uma pena de prisão até 1 ano, para quem repetisse a proeza. E em 2008, quatro mulheres moldavas, foram abandonadas no monte Athos por traficantes ucranianos, sendo rapidamente detidas pela Polícia. Mas após explicarem o sucedido foram perdoadas pelos monges.
No passado dia 8 março foi o dia da mulher em muitos países, e foi mais um dia normal no Monte Athos onde o feminino, simplesmente não existe… à excepção das gatas!
Ricardo Neto
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