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Gazeta Paços de Ferreira

12/07/2025, 0:00 h

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MANUEL GASPAR E A ACADÉMICA

Cultura Desporto Opinião Abílio Travessas

DESPORTO

O velho relato radiofónico agarrava os adeptos nas tardes de Domingo, tempos de jornadas de um só dia, sem a ditadura da televisão e a penúria das SAD's a imperar.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

O relato do jogo do tetra do Sporting, na década de 50, continua vivo na memória da infância, acompanhado da envolvência de um fim de tarde numa aldeia agrícola /piscatória do norte de Portugal: Oliva, Oliva, linda feiticeira, és na costura a padroeira... berrava o altifalante no adro da Igreja, terminados os ofícios da tarde de domingo.

 

Aos clássicos Lança Moreira, Amadeu José de Freitas e Artur Agostinho, passando por Carlos Cruz, Jorge Perestrelo e Fernando Correia, a rádio desportiva muito deve.

 

A televisão, quando era pública e de um só canal, continua saudosa de Alves dos Santos, o "Caveirinha", que vi, nervosíssimo, a "comer" cigarros, à entrada do Estádio da Luz, antes dum Benfica-Feyenord, no início da década de setenta. É seu um dos maiores equívocos da história das transmissões futebolísticas televisivas, aquando da primeira repetição dum golo: Incrível, meus senhores, um golo tirado a papel químico do anterior! Ficaram no arquivo imagens como Um passe que corta o campo à faca! ou Chuta com o pé que tem mais à mão!

 

Em Coimbra reinava, regionalmente, Manuel Gaspar, na Emissora Nacional, que eu ouvia religiosamente, às segundas-feiras, antes do jantar, para os comentários à jornada e ao jogo do União de Coimbra que me interessava particularmente dado ter sido o guarda-redes desta velha agremiação refundada com o nome 1919-União Futebol Clube.

 

Em situações difíceis para as redes da Briosa exteriorizava as suas simpatias não conseguindo manter a imparcialidade fazendo sentir o desespero com "Ais!" de pavor... Mas em situações de ataque e de remate à baliza contrária, era recorrente a exclamação "Ah! Caraças, por cima da barra!" 

 

Ficaram célebres no anedotário coimbrão frases como "Há uma cabeça de Carneiro a meio-campo..." ou esta outra, tão expressiva que merece a concordância de qualquer adepto do futebol: "Canto marcaaado, saltam milhares de cabeças à bola..." Como dizia Carlos Pinhão, "Ai que saudades, ai,ai!

 

 

 

 

Carlos Pinhão, um senhor jornalista da velha Bola, com crónicas e escritos à espera de recensão antológica, um grande cultor da língua portuguesa, coraria de vergonha com a ignorância de algum jornalismo de pacotilha que agora impera. Então o emprego das preposições é um bico d’obra. Ouvir os comentadores das provas de ciclismo na Eurosport dá para rir; ou chorar? Valha-nos Marco Chagas, exemplo de profissionalismo, com um discurso sempre competente.

 

Da ovelha ronhosa (e não ranhosa) ao fulano foi saneado, quando o correcto será a instituição foi saneada, muitas pérolas ficaram. Cacofonias singulares não esquecem apesar dos anos; no Estoril dos anos 80, duas duplas de centrais, com Alhinho a fazer a ligação, trazem-nos à memória a mais célebre e histórica da literatura portuguesa, alma minha gentil que partiste: Amílcar/Alhinho e Óscar/Alhinho.

 

Também João Almeida Moreira, em Avenida Brasil, A Bola, nos trouxe outra pérola: Losco Jones (leia-se em castelhano, fazendo pausa após a 1ª sílaba), avançado do Atlético de Madrid, anos 50.

 

Nota: Crónica revisitada na véspera do encontro anual dos refundadores da Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra no post 25 de Abril.

 

 

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