15/11/2025, 0:00 h
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CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
Passou pelo Chile de Salvador Allende e do fim de tentativa de edificar sociedade que o “amigo americano” considerou perigosa para os seus interesses – acabei de ouvir João Gobern a recordar Victor Jara, comparado a José Afonso, e o ódio da direita revanchista na raiva com que os torturadores lhe quebraram as mãos – Toca agora se és capaz! – antes de o assassinarem com mais de quarenta balas e o lançarem num baldio; o ataque às Torres Gémeas, inédito num país, império com mais de duzentos anos de independência de todos os sonhos e pesadelos.
Também nós, aqui, na Beira Alta, Alcafache, tão perto que me levou, de bicicleta, a correr para o local do desastre, embate de dois comboios, horrorizado perante cenário, aqui sim, dantesco, de carruagens encavalitadas, a arder, silêncio opressivo, sobreviventes do Sud saído do Porto, semelhando zombies… 1985, fim de tarde de calma outonal.

Imagens tão brutais que só duas pastilhas de calmantes me permitiram adormecer. Antes, já à noite, na Estalagem da Cruz da Mata, Mangualde, fui solicitado pelo gerente para atender jornalista da agência noticiosa, seria a ANOP, que pedia testemunho de alguém testemunha presencial da tragédia. A difusão mundial chegou a Moscovo onde sobrinho estudava e, surpreendido, ouviu o meu nome na televisão estatal.
O título da crónica? No livro, João Ricardo Pedro conta a história de duas amigas, uma delas a apanhar o Sud, no Porto, só a mochila foi encontrada. A ler o livro, na cama, choque ao deparar com as declarações de uma testemunha que transcrevia o que eu tinha dito à agência noticiosa, que me fez reviver aquele fim de tarde do dia 11 dum Setembro em que apanhávamos avelã no quintal nossa casa em Gandufe.
Cerimónia de mais um ano do desastre ocorreu com a inauguração duma pequena capela que perpetua, à beira da estrada nacional 234, a memória de tantos que ali perderam a vida.
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