Dos zero aos quarenta não importa a temperatura, porque o importante é mais importante que o que o termómetro dita. Certinho mesmo, chova ou faça sol, é que continuam a falhar os medicamentos nas farmácias, mesmo quando há dinheiro para os comprar.
Joaquim Leal
Junho. A temperatura sobe. Marcelo mantém o rosto fechado, todo embatucado, à sombra duma oportunidade para derrubar o governo e de, no seu lugar, colocar os seus queridos amigos da direita. Por um lado, varreu-se-lhe da memória que tinha prometido ser o presidente de todos os portugueses, e, por outro lado, meteu-se-lhe na cabeça que havia de mandar sozinho, sem intromissões, e que o governo só teria de baixar a crista e obedecer às suas ordens. Ser árbitro e jogador no mesmo jogo parece ser a sua vocação.
30 graus à sombra. Os raios UV ultrapassam a normalidade para esta época do ano, o que nos põe a observar o mundo através de óculos bem escuros e a ocultar a graciosidade dos sem cabelo sob os chapéus. Os cientistas, sempre atentos e militantes, alertam que a camada de ozono está a deteriorar-se mais rapidamente que o previsto e que é urgente tomar-se medidas para reduzir a poluição.
35 graus debaixo dum chaparro, junto à erva rasteira no sul do país. O diminuto caudal dos rios mal dá para a higiene diária dos peixes, muito menos para que possam matar a sede. Nos campos de golfe murcha a relva e os seus proprietários lamentam as limitações à rega, temendo que o negócio se afunde. Deslembradas permanecem as populações rurais, carentes de água nas torneiras e humidade para lhes salvar os mimos nos quintais.
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Dos zero aos quarenta não importa a temperatura, porque o importante é mais importante que o que o termómetro dita. Certinho mesmo, chova ou faça sol, é que continuam a falhar os medicamentos nas farmácias, mesmo quando há dinheiro para os comprar. A quem culpar? Há uma guerra em curso na Ucrânia e uma afronta à poderosa China. A Europa não é autossuficiente e precisa de importar. Sabia que a maior parte dos ingredientes indispensáveis à produção dos remédios que nos curam não existe cá? Andam altos responsáveis a jogar no escuro, a meter-se em aventuras de onde ninguém sairá a ganhar.
Morno. Nem quente nem frio é o caso do estrambólico computador do gabinete do ministro Galamba: muita berraria, mas apenas fastidiosas coscuvilhices.
Lamento imenso, mas, mantendo-se o rumo, os termómetros rebentarão em breve.