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Gazeta Paços de Ferreira

27/10/2022, 0:00 h

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SARAMAGO REVISITADO

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Mas há um pormenor, que me atrevo a chamar pormaior, que Saramago hoje identificaria e certamente o referiria angustiado. Seria o despovoamento do território, o isolamento social de muitos, a ausência de atividades humanas em vasto território, que não se limitasse ao vulgar sobreviver.

O ator brasileiro Fábio Porchat apresenta agora uma série documental televisiva sobre o livro Viagem a Portugal, de José Saramago, publicado em 1981. Em simultâneo ocorreu o lançamento de uma edição comemorativa do livro.

A série começou, seguindo a descrição do livro e respeitando o olhar do escritor, por Trás-os-Montes. Saramago viu os pormenores das cidades e vilas, as pitorescas históricas, os lugares e o património. Alguns dirão que era um tempo diferente, avesso ou prévio a um certo progresso que viria depois com a Democracia e os fundos comunitários.

Mas há um pormenor, que me atrevo a chamar pormaior, que Saramago hoje identificaria e certamente o referiria angustiado. Seria o despovoamento do território, o isolamento social de muitos, a ausência de atividades humanas em vasto território, que não se limitasse ao vulgar sobreviver.

E identificado o problema Saramago certamente apontaria causas: o comboio extinto, as escolas encerradas, o investimento perdido, a regionalização adiada, o poder dos interesses sobreposto às necessidades dos cidadãos.
Diremos que ainda há património, paisagens, talvez até uma rica cultura do passado. Sim, mas é pouco. O viajante Saramago, nascido no Ribatejo, moldado na grande cidade e que se exponenciou mais tarde como cidadão do mundo, hoje sentiria provavelmente o vazio do espaço desprovido de almas, as aldeias sem crianças ou jovens, o emprego rarefeito.

Este Trás-os-Montes que eu conheci diretamente entre 1980-1990 por vivência local e profissional possuía o fascínio de uma transformação de gentes e locais, algo acelerada, mas de uma identificação muito específica. Aprendia-se muito, ensinava-se bastante. E hoje?

Sob pena de ser superficial ou injusto, vejo a sua realidade como semelhante à Ilha de Páscoa, um pitoresco lugar turístico, de passagem, de viagem.


Fica Saramago, para sempre.

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