20/03/2025, 0:00 h
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FREGUESIAS
Foto de arquivo
Alguns dos lugares referidos, não sendo, ao tempo, os mais densamente povoados, eram, no entanto, os que detinham maior importância sócio-económica e estatuto superior. Era, também neles, que a feição agrícola tradicional - persistente desde meados do século XVIII - mais se evidenciava.
Essa feição agrícola dominante ainda se mantinha, à data dos anos 90, do século passado, embora de forma mais residual e não tanto como suporte do modo de vida que sustentara.
Nesses lugares - numa relação de grande proximidade geográfica e de intercâmbios múltiplos e intensos - concentravam-se a casa, mais ou menos solarenga do fidalgo e/ou do rico arrendatário, com suas adegas, celeiros e cocheira/garagem, os aposentos ou edifícios autónomos do pessoal auxiliar - feitor, chauffeur e outros serviçais, domésticos ou jornaleiros - as casas agrícolas dos respectivos caseiros, com instalações para o gado e alfaias agrícolas, os palheiros/eiras e os moinhos d'água, ao serviço duns e doutros.
Com base nestas variáveis, parece-nos fazer sentido considerar quatro grandes núcleos de povoamento, em função dos quais se estruturava todo o território e se modelava o modo de vida de quantos o habitavam.
ROSENDE/CASAIS - Aí pontificava a capela de S. Amaro e se implantavam três casas solarengas de famílias ricas e fidalgas - a da Torre, a de Rosende, a da Velha - e mais uma outra, não tão requintada - a dos Casais ou dos Leões.
Dentro de muros, altos e bem sólidos, fechados por portões, rendilhados em ferro forjado e encimados por gradeamentos defensivos, circundavam superfícies extensas, afectadas a jardim/bosque, quintal ou exploração agrícola própria.
No exterior, estavam também rodeados de solos agrícolas e florestais, ainda mais amplos e dados em arrendamento. O espaço mais a montante do rio Ferreira define a sua área de implantação.
Os senhorios repartiam entre si a propriedade das terras férteis do vale, ali a seus pés, fragmentadas, mas contíguas, entregues, para cultivo, a caseiros diversos.
Os seus domínios projectavam-se, desde o cabeço do morro da Costa Velha e do Barroco do Justo, até ao " sítio " da Devezinha e às freguesias contíguas de Lamoso, Codeços e Lustosa.
IGREJA/OUTEIRO - Aqui dominavam cinco grandes casas de proprietários agrícolas. A sua traça era bastante diferenciada, por relação às do núcleo anterior e na comparação entre elas mesmas.
Duas eram bastante toscas, enquanto as outras apresentavam algum esmero nos seus acabamentos exteriores. Salvo uma excepção, também elas contavam com jardim e espaço agrícola próprio. Era, no entanto, bem menos autonomizado e, comparativamente, não tão exuberante, nem tão resguardado e segregador, como no núcleo anterior.
Os amanhos agrícolas, na área residencial do senhorio, estavam a cargo dos respectivos caseiros. Em algumas delas, aí mesmo, se implantavam as cortes para o gado, os palheiros/eiras, as tomadas e condutas d'água. As vantagens da privacidade e da diferença esbatiam-se, em proveito do acompanhamento directo, do controlo imediato e assíduo, das actividades em curso.
Também na sua projecção exterior, este núcleo se diferenciava. O envolvimento das casas ricas, por área agrícola própria - em forma de " guarda avançada e protectora - fazia-se de forma bem menos exclusiva. Dispunham-se, no território, de forma descontínua ou, quando concentradas, situavam-se em zonas menos próximas das residências dos senhorios. Os seus domínios territoriais distendiam-se pelos lugares de Soutelinhos/Outeiro e da Igreja/Carvalhido. Por nascente, prolongavam-se até às fraldas do Monte Castro e, para Sul, até aos lugares de Groute e do Reguengo. De forma aproximada, ocupavam e bordejavam os dois vales, suavemente inclinados e não tão férteis como os de Rosende/Casais, que se desenham na direcção de Norte para Sul, de Soutelinhos/Outeiro para o Reguengo.
O REGUENGO - Era muito semelhante ao de Rosende/Casais, com a particularidade de ser constituído exclusivamente pela residência senhorial, solarenga e brasonada, mais as casas agrícolas dos respectivos caseiros.
A grande extensão de terrenos, agricultados ou florestados, de sua propriedade, concentravam-se em redor do complexo residencial e isolavam-no dos outros pólos do povoamento.
Ocupava a parte, terminal e mais fértil, do vale procedente de Soutelinhos, já antes referido. Projectava-se para Sul, até ao lugar do Rio, em Parada, e a freguesia de Figueiró, enquanto, para SW, se alongava na direcção dos lugares de Tutinas e Carvalhido.
Por Miguel Meireles
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