23/02/2025, 0:00 h
212
OPINIÃO
Por Joaquim António Leal
E ele disse-me: “Não estou certo de ter compreendido a tua questão, mas vou tentar esclarecer-te. Eu viajo muito, como não ignoras, e já passei pelo Polo Norte inúmeras vezes, onde continuo a ver as calotas polares a derreterem e, a milhares de quilómetros de distância, os oceanos a transbordaram e a engolirem casas que desalojam populações.
Já desci ao Polo Sul e o panorama é em tudo semelhante. No centro da terra, naquela linha imaginária que divide o nosso planeta, estremeci sob a turbulência de outros ventos, meus primos e irmãos, que insistem em dirigir-se para Sul a provocarem desastrosas monções. Parece-me que por todo o lado se assiste a fenómenos negativos, consequências nefastas de atividades humanas que não criam mais valor, antes satisfazem desmedidos apetites de gentes irracionais. Será isto o Amor Maior de que querias saber?”
Não. O Amor Maior é exatamente o oposto de tudo isso, esclareci.
“Parece-me que nas minhas viagens encontrei de tudo, exceto o que mais desejas. Não vi amor – se é que começo a compreender o significado do que me questionas – mas guerras e destruição, homens a matarem outros homens e a sacrificarem velhos e crianças como se fossem simples peças num tabuleiro de xadrez. Se a minha fugidia opinião te importa, digo-te que quase só encontrei coisas nada bonitas de se ver”.
Amigo Vento, deixas-me profundamente triste com as notícias que me trazes. Que há pessoas e potências militares a espezinharem outros seres em nome da ganância e dos poderes pessoais já o constato há muito.
A promoção de guerras na terra dos outros é uma constante, e a hipocrisia de proclamar que se faz a guerra para defender a paz é um profundo golpe que se dá na inteligência das pessoas que se não deixam enganar.
O que eu esperava ouvir-te sibilar, caro Vento, era que encontraste um ponto, um simples ponto neste belo planeta onde ninguém subjugasse o seu semelhante, antes todos colaborassem para a obtenção do bem comum, ou seja, onde se vivesse o Amor Maior.
“Lamento”, murmura o Vento desiludido, “mas em nenhum sítio, próximo ou remoto, encontrei o que anseias. Talvez um dia os teus sonhos se realizem. Talvez!”.
ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA
Opinião
3/08/2025
Opinião
3/08/2025
Opinião
3/08/2025
Opinião
3/08/2025