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Gazeta Paços de Ferreira

12/11/2023, 0:00 h

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O VAZIO

Opinião Opinião Politica Partido Comunista

OPINIÃO

Vivemos num tempo em que generalizadamente há um aparente fascínio pelo vazio. Vazio de ideias, vazio de compromissos, vazio de expectativas.

Por Cristiano Ribeiro (Médico e Militante do PCP)

OPINIÃO

 

 

Às ideias pensadas e estruturadas preferimos por simplificação os slogans, transitórios e emotivos. Aos compromissos solidamente assumidos, contrapomos estados de espírito plurais e instáveis. Quando nos propõem uma desejada avaliação de resultados de qualquer atividade, remetemo-nos para um distanciamento, um alheamento e uma menorização eivada de um certo grau de pessimismo.

 

 

Riscamos o sonho da esfera do pensar e do agir. O sonhar grande. O sonhar mínimo. Pensamos pequenino e monotonamente igual. Agimos limitadamente e de rotina, comprovada. A lógica é esta: respiramos, logo aparentemente estamos vivos, o que é bom. Ou não estaremos?

 

 

Habituamo-nos a não participar, a não discutir problemas, a não dar opiniões, e rapidamente percebemos que o melhor, o melhor mesmo, é não saber, não estar presente, escondidos, incógnitos no meio da multidão. Aí nunca erramos, nunca nos chateamos, outros (doutores?) nos substituirão. Alguém pensará por nós. Mas será assim?

 

 

Lemos pouco, poupamos os olhos e não corremos o risco de não perceber o que lemos.

 

 

Compreendemos assim que este aparente fascínio pelo vazio, não é fascínio algum, é tolerância. Ou estratégia, isenta de dificuldades.

 

 

Muitos assim pensam. Que me importa se (e o que) ensinam na escola, se transmitem valores (e quais), se inculcam qualquer disciplina, se se preparam os nossos filhos para uma vida exigente e responsável? Que me importa que na minha unidade de saúde haja médicos ou não, competentes ou não, motivados ou não? Que me importa que aos 65 anos possa ter ou não ter uma reforma ou assistência na doença? Que me importa que os meus governantes sejam sérios e competentes ou os meros arrivistas na vida pública? Que me interessam os problemas da Palestina ou da Ucrânia, se há mortos e quantos mortos? O que me interessa é o meu eu imediato, o meu eu satisfeito, nem que seja só com a vitória desportiva do clube de afeição.

 

 

Vivemos e sofremos isoladamente, no círculo fechado, na concha, no território limitado de uma pequena cela. Temos um problema de habitação mas não ousamos dar um passo para construir habitação social , por exemplo através da organização de cooperativas de habitação. Temos um problema grave de envelhecimento mas não ousamos dar um passo para organizar novas respostas locais de assistência a idosos. Temos uns problemas de saúde mental, uns problemazitos diria, mas não faltam medicamentos para os “atenuar”, pena serem algo carotes…

 

 

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O mercado numa sociedade liberal é o Deus que se quer infalível e onde se espera obter subsistência ou sobrevivência. O outro Deus, o deus espiritual , anda mais arredio, mas o Deus-mercado, esse quando falha, só a caridade assistencial nos salva…

 

 

Mas o vazio pode ser sempre ocupado pelo entretenimento, pelo anedótico, pelo superficial. Antigamente em Ditadura era Fátima, fado e futebol. Agora em Democracia há novos temas. Uma Miss transgénero, independentemente de se não saber o que é, ou como surge, enche sempre o existencial vazio quotidiano de alguém. Oh Modernidade! Oh Luminoso futuro! Oh Sinais dos tempos! Uma Miss trans alimenta o espaço vago da nossa consciência social.

 

 

Ideias, compromissos, expectativas? Que maçada!

 

 

 

 

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