Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)
Crianças barulhentas
Soube-se pela comunicação social que a Câmara Municipal de Lisboa pediu que uma creche de cariz social reduzisse o ruído, após um vizinho da instituição se ter queixado. Como é possível?
Quando se fala em creches fala-se em crianças até 3 anos. Serão bebés ou crianças ainda pequenas. Tudo bem: provavelmente choram, o que é intrínseco às crianças. A questão é: como se pode sequer pensar em reduzir o barulho de uma creche? A solução poderá ser fechar as crianças, criando um sistema à prova de som. Quase metê-las numa bolha.
Como é possível um ser “humano” pedir isto? Reduzir o ruído de uma creche? Questiono-me, sinceramente, se o som fosse de animais, se o queixoso se sentiria incomodado.
A minha questão é: como é possível o ser humano sentir-se tão incomodado por crianças de creche? Como pode o melhor do mundo incomodar? A que ponto chegamos enquanto sociedade?
Perigosidade do jogo da apanhada
Soubemos também que uma progenitora recorreu à justiça para que o jogo da apanhada fosse declarado perigoso. Tudo isso porque o seu filho partiu uma perna ao jogar o referido jogo, no longínquo ano de 2019. A decisão não favorável à pretensão inicial da mãe tem motivado sucessivos recursos que, pela informação divulgada nos meios de comunicação, não terão ainda chegado ao fim.
Ora a pretensão da progenitora é a culpabilização da instituição e uma indemnização módica de 60 000€.
A questão é: como podia a instituição prevenir a situação? Impedir que a criança se movimentasse livremente? Colocar um funcionário para cada criança que se pudesse colar à mesma e evitar a queda, ou até cair por baixo da criancinha para amortecer a queda?
Se a mãe não quer que o “bibelot” se aleije, deve mandar fazer um fato especial para a “criatura”. Deve ainda pagar um segurança particular… Melhor ainda: impedir que a criança saia da cama, não vá escorregar e partir-se todo.
Como pode haver uma solicitação destas? Como pode haver uma “mãe” querer limitar a liberdade de todas as crianças? Já não chega limitar a do seu filho?
Pobres crianças…

A(in)cidente em Escola de Cinfães
Foi muito divulgada a situação que ocorreu numa escola em Cinfães com um aluno de nove anos. A mãe deu várias entrevistas a culpabilizar a escola pelo que aconteceu.
Tenho seguido a notícia nas redes sociais e a partilha desse acontecimento tem sido elevadíssima. Elevadíssimos são, também, os comentários.
Confesso que este assunto me tem prendido bastante a atenção por dois motivos: Cinfães é e sempre será a minha terra natal; a situação está ligada à minha profissão.
Ora vamos lá tentar contextualizar. A situação foi divulgada pela mãe que, como é normal, está indignada com o que aconteceu ao seu filho. Diz ela que o filho foi vítima de bullying e que ficou com as pontas dos dedos amputados, porque duas crianças fecharam a porta da casa de banho propositadamente para que o menino ficasse preso. Alegou ainda que “o menino sofreu as agressões por ser brasileiro, preto, gordo e recém-chegado à instituição”. Nas várias entrevistas ou comunicações que fez relata que teve que mudar de residência, mas que não foi ajudada por ninguém: nem Estado português, nem brasileiro, e nem a própria polícia a ajudou. Terá que custear essas mudanças com “o dinheiro que tem no bolso”. Afirmou, ainda, que muitas regiões de Portugal são “racistas e xenófobas”.
As informações dadas pela mãe, de forma sistemática, levaram a uma onda de culpabilização da Escola, nomeadamente das Assistentes Operacionais e Professores.
A Escola limitou-se, e bem, a informar que está a decorrer um inquérito interno. A Inspeção Geral da Educação abriu também um processo para averiguar as circunstâncias em que ocorreu esta situação.
A Escola, e bem, tem o dever de proteção de dados. Mas não deve ser só a Escola a tê-lo. As pessoas (e no caso também a mãe) deviam ter tido cuidado com as informações que dão, sem saber a veracidade das mesmas.
Li imensos comentários de pessoas indignadas com a Escola, pois quem lá trabalha não faz nada; outros a acusar de racismo; outros…bem, nem vou exemplificar mais.
O que me apraz dizer: temos recebido imensos alunos de outros países e de uma coisa tenho a certeza: acolhemo-los com todo o cuidado e dedicamos-lhes muito do nosso tempo, procurando minimizar os constrangimentos, que já sofreram com as mudanças, muitas vezes com prejuízo dos alunos que já cá estão.
E sim: trabalhamos com os miúdos a questão de saberem acolher bem! E as crianças acolhem. Acolhem quem sabe e quer ser acolhido, o que não acontece, obviamente, com todos.
As crianças são as primeiras a mimar e a integrar os novos alunos nas dinâmicas e regras de cada escola. Obviamente, quem quer ser integrado e quem quer cumprir.
Estou com isto a dizer que nunca haverá violência ou bullying? Claro que há…mas não em exclusivo com emigrantes.
Quanto à vigilância: mas as pessoas sabem que o rácio de um auxiliar é para cerca de meia centena de crianças? Acidentes acontecem junto dos pais, em que, às vezes, são dois para um filho…
Muito mais haveria a dizer, mas não me posso alongar muito.
Confiança na Escola
Por muitos comentários inflamados nas redes sociais se percebe que há pessoas que não têm confiança na Instituição Escola. Cheguei a ler comentários que diziam “A Escola não serve para nada”; “A Escola só estraga os alunos”…e mais do género.
Será esta a ideia da sociedade em geral? Isso é preocupante! São as perceções que passam também para os miúdos.
Como podem os profissionais da Educação sentir-se confiantes e motivados? Não podem…e talvez também isso justifique a falta de docentes e o burnout que se sente de quem ainda está no ativo.
Deixo um conselho a quem não confia na escola: escolham o ensino doméstico para os vossos filhos. Podem fazê-lo. Quem sabe, assim o ambiente escolar possa mudar, ao coexistirem apenas aqueles que sabem, e reconhecem, que a Escola faz a diferença na vida das crianças.
ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA
Opinião
21/11/2025
Opinião
16/11/2025
Opinião
16/11/2025
Opinião
15/11/2025