09/08/2025, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Ricardo Jorge Neto
Sem nada, aceitou tudo o que lhe ofereceram, trabalhou em tudo o que os franceses não queriam fazer, e vivia onde os franceses preferiam nem ver. Mas o seu esforço, a sua dedicação, e o seu suor, fizeram-no crescer na vida, e tornar-se num honrado emigrante português. Hoje, longe desses tempos de pobreza, António vive na casa que construiu com as poupanças em França, e desfruta da sua reforma.
Há dias, António saiu de casa para ir visitar um dos seus irmãos. No carro, um político vocifera na rádio palavras injuriosas contra aqueles que procuram em Portugal uma oportunidade de vida.
António esticou a mão sobre o auto-rádio, e aumentou o som. Quando levantou o olhar sobre a estrada, na frente do seu carro, surge um idoso com um balde na mão, e no seu encalço, um jovem que aparenta ser indiano, com uma pá na mão.
António pára o carro, e sai em perseguição destes homens que adentram por um trilho no mato. António corre, corre, corre, e no fim do trilho, junto a um pequeno celeiro, depare-se com um cenário aterrador.
O idoso está em lágrimas e amedrontado, enquanto o jovem com a pá vai batendo com toda a sua força. António reage de imediato, e agarra num ramo de árvore caído, e vai brigar para ajudar aquele pobre homem… O pânico estava instalado!
Nisto umas luzes azuis surgem nas suas costas, e António sente um enorme alívio! Finalmente os bombeiros chegaram, o celeiro e as vinhas iriam ser salvos.
Afastados do fogo, os três homens sentam-se no chão, e foi então que Paul, um americano a viver em Portugal, agradeceu a pronta ajuda de Ahmid, o jovem indiano que trabalha nas suas terras, e a António.
António sorriu para Ahmid, e disse-lhe:
- Sabes, eu já fui como tu, tive de construir a minha vida a partir do zero, num país que não era o meu!
Aquele inusitado momento juntou três homens migrantes, de três continentes distintos, mas apenas um deles foi imigrante ilegal, o senhor António!
António, um dos 900 mil portugueses que emigraram para França entre 1957 e 1974, fugindo da ditadura de extrema-direita portuguesa, entrou de novo no carro, sentou-se, deu à chave, e desligou o rádio!
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