Por
Gazeta Paços de Ferreira

05/02/2022, 0:00 h

257

NÃO SÃO TODOS BOA GENTE

Opinião

Um dos indivíduos que me vem à memória quando falo desses tais casos é Salazar, o morto que umas quantas almas desejam que continue entre nós, apesar do bafio que exala do seu féretro.

Quando alguém falece, ainda que tenha sido um sacana da pior espécie, tudo se lhe perdoa, não raramente afirmando-se no momento das exéquias que, apesar de tudo, lá bem no fundo, o tal fulano até era boa pessoa. Parece que, morrendo, qualquer imbecil passa de besta a bestial, mesmo que nunca tenha passado dum idiota. Contudo, cá por mim, a única positividade dum morto deste calibre é estar morto, bem lá no fundo duma cova fria.

Um dos indivíduos que me vem à memória quando falo desses tais casos é Salazar, o morto que umas quantas almas desejam que continue entre nós, apesar do bafio que exala do seu féretro. A esses, desejava um “amigo facebookiano”, com humor negro: “se gostam tanto dele, suicidem-se e vão fazer-lhe companhia”. Mas eu não vou tão longe. E não vou, porque não concordo com medidas drásticas a tal ponto, mesmo para esses, e também porque estou convencido que uma boa parte destes apoiantes do cadáver só o são por duas razões: ou porque estão mal informados, ou porque não dispõem de suficiente discernimento. Veja-se o resultado das eleições do passado domingo, em que um número anormal de pessoas votou num partido que não encontra consolo senão na aspiração dos ares fétidos que se libertam do cadáver do dito defunto! Tive pena. Dá-me imensa pena constatar que há quem se deixe enganar, e ainda mais quando se deixa enganar por um morto. É claro que no grupo dos votantes – e especialmente nos concorrentes a deputados – também havia os sabidolas, os traiçoeiros, os que prometem salvar o povo quando o seu único desejo é explorá-los. Rica forma de eternizar a vontade de certos mortos!

 Na Revista do Expresso da semana passada, dizia-se que Ricardo Espírito Santo foi colaborador/espião dos nazis durante a Segunda Grande Guerra. Foi desumano e cruel o que os nazis fizeram aos judeus, ciganos e comunistas, mas Salazar adorava-os assim mesmo. Amigo íntimo deste, o tal Espírito Santo – o banqueiro – não podia deixar de afinar pelo mesmo instrumento, única maneira de defender os seus próprios interesses e dos seus familiares. Acautelada a causa própria, o destino dos milhões de inocentes que seriam assassinados não o afligia.

Morreu um dos malditos, seguiram-se outros que foram morrendo. E não, não são todos boa gente. Não basta justificar a parte tenebrosa das suas ações com o facto de já terem quinado e se encontrarem encerrados em mausoléus.

 

Joaquim António Leal

 

ASSINE GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

ASSINATURA ANUAL

IMPRESSA/PAPEL – 20,00 + OFERTA EDIÇÃO DIGITAL

EDIÇÃO DIGITAL – 10,00

Opinião

Opinião

Cascas de banana…

17/08/2025

Opinião

De tostão em tostão… se alcança o milhão ou a dimensão colectiva dos direitos do consumidor

13/08/2025

Opinião

A Bolsa de Valores

11/08/2025

Opinião

Gastroparésia: Quando o estômago perde o ritmo

10/08/2025