22/06/2023, 0:00 h
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CULTURA
advertiu-me o moço sentado no passeio da Av. Lourenço Peixinho, Aveiro. Chamou-me a atenção os dois livros que tinha a seu lado; uma pequena bolsa com algumas moedas, denunciavam o seu modo de estar no mundo. Ao contrário do costumeiro não produzia música. Simplesmente estava, dois cães de porte médio custodiavam-no, um deles agressivo perante qualquer gesto meu mais inusual, para ele.
Os livros, um dum autor romeno, Mircea Eliade, o Tratado da História das Religiões, o mais conhecido e que faz parte da minha biblioteca, era obra de ficção, também foi romancista, naturalizou-se americano em 1970. Pesquizando na NET, Ana Lúcia Santana afirma que “o pensamento de Mircea foi igualmente marcado pela mesma face mística que movia o fascismo. No final da década de 30, em 1938, foi preso por ser um pretenso integrante da Guarda de Ferro, organização fascista acusada de antissemitismo. Admirador do nosso ditador, escreveu Salazar e a revolução em Portugal. O outro livro, de Ruth Meredith, Padrões de Cultura, de 1934, leitura introdutora de antropologia nas universidades americanas. Segundo Margaret Mead, também antropóloga, “a ideia central do livro é a confiança no relativismo cultural – cada cultura possui os seus próprios imperativos morais; não devemos avaliar um povo sòmente com as nossas referências. A moralidade é relativa”. Ou seja, dois autores antagónicos na observância das realidades.
À sua pergunta sobre os meus conhecimentos, superficiais, sobre os autores dos livros, argumentei com a idade que me vai pesando e os conhecimentos acumulados numa vida de professor de várias áreas do saber, sociologia também. Foi a sua vez de me inquirir sobre o que estava a ler. Rodeei a resposta dizendo-lhe que o autor era português e muito esquecido. Surpreendeu-me o seu palpite ao titubear o nome do grande Aquilino Ribeiro. Felicitei-o porque não é vulgar encontrar um jovem conhecedor do escritor beirão. Referiu ainda Andam faunos pelos bosques, título que não lhe saiu à primeira; foi livro que li ainda há pouco.
Acabei a falar-lhe de Via Sinuosa, primeiro volume duma trilogia autobiográfica começada com Lápides Partidas, aventuras quando jovem chegado à Lisboa revolucionária do antes da implantação da República, o regicídio, cuja envolvência conheceu de perto e cujo alvo era o odiado ditador João Franco.
A minha satisfação perante um jovem tão fora do comum actual – não, não tinha telemóvel – levou-me a óbulo generoso que sobressaía debaixo das moedas.
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