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Gazeta Paços de Ferreira

25/12/2024, 0:00 h

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Na mesma moeda

Cultura Opinião Ricardo Neto

CULTURA

A vida de José mudara de um momento para outro. A moeda, que o mendigo lhe oferecera, e que ele guardava religiosamente, parecia conter o poder da sorte.

Por Ricardo Jorge Neto

 

José era jovem com um bom coração! Tinha sempre algo a oferecer, nem que fosse um sorriso. Mas José sentia que o mundo o tentava contrariar a toda a hora, e eram inúmeros os azares que lhe iam surgindo pela frente, como uma espécie de dominó, onde as peças se vão derrubando umas às outras.

 

 

Aquele mês de dezembro estava a correr particularmente mal.Quando o Natal se aproximava, José foi chamado aos serviços administrativos, informaram - no que o seu contrato não iria ser renovado e entregaram-lhe um envelope com o pagamento final. 

 

 

Ao sair do seu antigo local de trabalho, suspirou e começou a caminhar cabisbaixo. 

 

 

Ao dobrar a esquina, encontrou um mendigo que lhe pediu ajuda. José olhou para o homem, abriu o envelope com o dinheiro, mas voltou a fechá-lo e entregou- lho, dizendo:

 

 

- É melhor ficar com tudo, muito possivelmente ainda acabo assaltado na próxima rua…

 

 

O homem ficou sem reacção, por momentos, mas depois agarrou a mão de José, colocou-lhe uma moeda na mão e sorriu!

 

 

Ao entrar em casa, a sua mãe aguardava-o muito feliz. José tinha à sua espera um homem que o queria contratar de imediato… A vida de José mudara de um momento para outro. A moeda, que o mendigo lhe oferecera, e que ele guardava religiosamente, parecia conter o poder da sorte. 

 

 

Com a moeda, José tornou-se um homem de sucesso, conheceu a sua lindíssima esposa e tornou-se alguém respeitado e admirado por todos.

 

 

Mas José nunca esquecera aquele mendigo e, para o voltar a encontrar, criou um centro de ajuda na cidade. 

 

 

Todos os dias no final da tarde, cumpria o mesmo ritual:visitava o centro, na esperança de reencontrar aquele mendigo, e ia tomar um café junto daquela esquina, onde a sua vida mudara.

 

 

 

 

Um dia, num outro Natal, José acordou e não encontrou a sua moeda.

 

 

Ficou nervoso e temeu que tudo o que construíra se desmoronasse, como um castelo de cartas. 

 

 

Mas o dia correu normalmente e nada de errado aconteceu. Quando finalmente o seu dia estava a terminar, naquele café da esquina, ao pagar, reparou que estava a dar a moeda ao rapaz do balcão… hesitou, olhou para o jovem e disse:

 

 

- Fique com essa moeda para si, vai mudar-te a vida, se acreditares nela!

 

 

Nisto, sentou-se ao seu lado um homem que começou a falar com ele:

 

 

- Sabe, você não me conhece, mas eu conheço-o! E conheço, principalmente, a sua esposa! Eu não deveria estar aqui, eu prometi-lhe que haveria de ser ela a falar consigo e não eu! Mas o tempo passa, e a situação não se pode arrastar mais!

 

 

José começou a suar e a ficar mal disposto, enquanto olhava para todo o lado, na tentativa de encontrar o jovem, a quem deu a moeda. 

 

 

Continuou o estranho homem:

 

 

- Não fique assim, acalme-se! Eu e a sua esposa temos mantido uma relação há muito tempo. Ela apenas ainda não conseguiu falar consigo, porque você é homem bom.

 

 

- Espere, não estou a entender o que me quer dizer, ajude-me primeiro a encontrar o jovem que me atendeu! Para onde ele foi? - o nervosismo de José era evidente, parecia que o seu mundo começava a colapsar…

 

 

- Esqueça isto, e oiça-me com atenção! Eu e a Sofia vamos seguir o nosso caminho…

 

 

- Sofia? A minha esposa, não se chama…  

 

 

De repente, nas suas costas surge o mendigo, que lhe diz:

 

 

- José! Finalmente reencontro-o! Quero que saiba que o segredo da sua vida nunca esteve nesta moeda. Apenas recebeu de volta, o que sempre ofereceu! 

 

 

Um Feliz Natal para si e para a Maria, sua esposa.

 

 

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