As notícias de naufrágio de refugiados dariam capas diárias em todos os jornais do mundo. Contudo – ao contrário do sucedido com o “Titan” - raras são as situações em que estas vêm a luz do dia.
Catarina Matos
A embarcação chamada “Titan”, da OceanGate Expeditions, iniciou a sua descida ao fundo do mar, no dia 18 do mês de junho, com vista à observação do famoso navio naufragado, “Titanic”. A bordo estavam 5 homens que pagaram 250 mil dólares pela expedição de 8 dias. Contudo, o inesperado aconteceu e o “Titan” perdeu contacto com a superfície menos de duas horas depois, de acordo com as autoridades. Depressa – e bem – dispararam notícias a dar conta do ocorrido, causando frenesim em, praticamente, todo o mundo.
Entre os dispositivos utilizados para as buscas com vista ao salvamento dos 5 homens estiveram aviões de deteção de submarino, robôs controlados remotamente e equipamentos de escuta.
Nessa mesma fatídica semana de junho, mais de 300 imigrantes provindos do Afeganistão e Paquistão sofreram um naufrágio no mar mediterrânio – ao que se sabe, todos eles foram considerados mortos.
Engane-se quem pensa que se trata de uma tragédia isolada. Desde 2016, as tragédias com refugiados têm vindo a ser recorrentes, embora silenciosamente.
As notícias de naufrágio de refugiados dariam capas diárias em todos os jornais do mundo. Contudo – ao contrário do sucedido com o “Titan” - raras são as situações em que estas vêm a luz do dia.
O que nos leva a esta dualidade de atenção? Porque é que a vida de um branco com 250 mil dólares na conta que vai à procura de uma experiência e aventura é mais importante do que a vida de alguém que tem de se sujeitar a tudo para encontrar uma vida melhor do outro lado do Mediterrâneo?
Compensará silenciar a vida de uns para se fazer ouvir a vida de outros, apenas porque isso dá mais “engagement” às notícias partilhadas?
É impreterível que se trata de uma tragédia em ambas as situações. Uma morte será sempre uma morte, independentemente da cor, da proveniência e da situação financeira.
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Nunca descurando, pensemos sobre a dualidade de tratamento e atenção que é dada a cada situação. Aos recursos que se utilizam numa situação e noutra, apenas porque uns tem a sorte de ter uns bons números a mais no banco.
Será sempre uma tragédia. Seja por luxo ou por miséria. Afinal, morrer no mar é, infelizmente, para todos – embora, aparentemente, a importância não seja a mesma.
Catarina F Matos
Militante da Juventude Socialista de Paços de Ferreira