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Gazeta Paços de Ferreira

10/08/2024, 0:00 h

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JOGOS OLÍMPICOS (PARIS 2024)

Desporto Opinião José Neto

DESPORTO

Os Valores do Olimpismo; A qualificação da prática desportiva; a miragem do rendimento; o significado do resultado.

Por José Neto (Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador)

COMENTÁRIO DESPORTIVO

 

 

A qualificação para estados ótimos do rendimento desportivo, vive geralmente ancorada a obstáculos em que o talento, o esforço e a dedicação se transferem para um simples sonho, coberto pela incerteza de ter ultrapassado em provas as linhas do horizonte.

 

 

Qualquer projeto de qualificação olímpica deve nascer nas entranhas de quem se coloca na luta e seja capaz de espiritualizar as forças, apurar os sentidos e sublimar os impulsos à luz dos valores da civilidade, da ética, da solidariedade e da paz.

 

 

Fazendo um pouco de história e de forma naturalmente muita resumida, os jogos olímpicos surgiram em Olímpia – Grécia Antiga em 776 a.C., como honra e dádiva ao deus Zeus, perdurando até 393 d.C., tendo o imperador Teodósio decretado a sua eliminação pela prática e uso dos cultos pagãos.

 

 

Nos jogos da antiguidade clássica apenas a corrida, o pentatlo (saltos, disco e dardo), boxe, luta livre e eventos equestres, tinham acento.

 

 

Nos finais do sec.XIX, com o reviver duma França revolucionária, o barão Pierre de Coubertin, fez eclodir o espírito dos jogos da antiguidade, tendo sido levada a efeito a 1ª olimpíada moderna em 1896 em Atenas, reunindo 14 nações e 241 atletas de várias modalidades.

 

 

 

 

Seu lema CITIUS, ALTIUS, FORTIUS (mais rápido, mais alto e mais forte), procurou o seu criador assim expressar no juramento olímpico: “a coisa mais importante nos jogos olímpicos não é vencer, mas participar, assim como a coisa mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta. O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem.”

 

 

É claro que à medida da evolução do tempo toda esta filosofia ia morrendo de forma lenta, mas segura e a definição outrora do atleta como “cavalheiro aristocrático”, viu-se ultrapassada. A profissionalização iniciou o seu bastião, bem protegido pelas nações que potenciavam os seus argumentos políticos, pelas razões que as medalhas lhes iam conferindo.

 

 

Não será possível nos dias de hoje dissociar a evolução das tendências do desporto olímpico sem o comparar aos modelos económico – financeiros, típicos do economicismo que ao longo do tempo nos tem governado. Qualquer participante segue uma marca, com uma cor, com um desejo, mas também com a obrigação de conquistar uma medalha. O participante funciona a maior parte das vezes como meio, sendo o lucro o objetivo primeiro.

 

 

Fazendo uma retrospetiva dos últimos 3 Jogos Olímpicos, tivemos no Rio de Janeiro/2016, 92 atletas, tendo conseguido 1 medalha de bronze, obtendo ainda 10 diplomas e 15 resultados entre os 16 primeiros lugares, confirmando o 2º melhor lugar na história de Portugal em jogos olímpicos.

 

 

Nos últimos jogos (Tóquio 2020) com a presença de 91 atletas, obtivemos a melhor participação portuguesa de sempre, contabilizando a conquista de 4 medalhas (1 de ouro, outra de prata e 2 de bronze), 11 diplomas e 21 posições entre o 9º e 16º lugares.

 

 

Agora em Paris (entre 26 de julho e 11 de agosto), Portugal apresenta 73 atletas divididos por 15 modalidades, dos quais 36 (49,3%) são estreantes.

 

 

Deixem-me acrescentar uma nota que comoveu numa explosão de alegria regada com lágrimas todos os portugueses e que jamais se apagará da memória como foram conseguidas as medalhas de ouro olímpicas de Carlos Lopes – maratona (Los Angeles 1984); Rosa Mota – maratona (Seoul 1988) e Fernanda Ribeiro – 10 mil metros (Atlanta 1996)!...

 

 

 

 

Discute-se: mais exigência? … mais medalhas?...

 

 

É claro que por vezes somos levados a libertar uma consciência de vencedores antecipados e nessa elevada expectativa poderá ter residido uma exigência, que também pode ter funcionado como garrote e de difícil justificação.

 

 

Mas o que se pode pedir mais a um País em que o Desporto é quase um bem esquecido e apenas alguns o tem disponibilizado na sua prática ?!...

 

 

O desporto pré-escolar e universitário é praticamente uma miragem. O desporto escolar, uma bandeira a rastejar pela agrura de muito oportunismo onde os valores do passatempo são mais justificáveis do que os valores técnicos pedagógicos e sociais que deveriam ser inseridos numa obrigatoriedade participativa, valorizada e qualificada para efeitos de carreira… etc … e se não fossem os clubes, das misérias se fazia um peditório!...

 

 

Segundo dados dos últimos anos, refere-se que apenas 36% dos portugueses pratica desporto (os que menos fazem desporto na Europa, com exceção da Bulgária e Malta), sendo que 21% o fazem de forma regular e 15% de forma ocasional e 45% dos portugueses acima dos 16 anos praticam atividade desportiva 5 h por semana, enquanto na U.E. se registam 72% e registando ainda que  34 em 100 homens o fazem e 7 em 100 mulheres o exercem, enquanto 77% dos portugueses utilizam como primeira opção ver T.V. com uma grande percentagem discussões baratuchas de Futebol associando os “ bigs brothers” e outros que de corar a vergonha a quem por vezes clica de forma desprevenida.

 

 

Ainda a acrescentar o registo de 70% das crianças que brincam menos de 1 hora por dia, vendo 28 horas de T.V. e jogos de computadores por semana e nas idades entre os 3 e 6 anos 12.5% já se apresentam obesas e entre os 7 e 8 anos 32% têm excesso de peso e 14% se encontram obesas.

 

 

Nos jovens a não prática acusa a céu aberto uma preguicite aguda, renúncia ao suor, ao esfoço, ao sacrifício e ao abandono da responsabilidade.

 

 

 

 

Há como um convite ao sedentarismo, causador cerca de 900 mil mortes por anos (10 a 16% cancro da mama, cólen e reto e 22% da diabetes e doenças cardíacas), sabendo-se que 1 euro investido em programas de prevenção através da prática do exercício e atividade física e claro ajustando uma alimentação cuidada, se poupavam 3 euros na despesa com a doença.

 

 

QUEREM MAIS MEDALHAS ???...

 

 

Só o poderemos admitir quando um verdadeiro programa desportivo, com a seriedade duma organização que seja consagrada pela regra, exigida e convertida na disciplina, autenticada no resultado, podendo este sim, ser exaltado pelo sucesso.

 

 

E … já agora, também e quando todos e especialmente quem deve assumir a responsabilidade governativa, entender que o DESPORTO pode e deve funcionar como catalisador privilegiado para a constituição dum homem (e mulher) mais libertador, mais saudável e consciente, requerendo pela sua prática uma maior sintonia entre o gasto do teor energético e a sua correspondência com a vida, porque e como refere o nosso sempre amado Professor Doutor Manuel Sérgio “ O desporto se assume como o fenómeno cultural e social de maior magia no mundo contemporâneo”.

 

 

Oxalá que a Festa dos Jogos Olímpicos Paris 2024 possa ajudar a conseguir mobilizar pela prática desportiva uma das mais eficazes fontes de vida da excelência da sua prática, coroando de forma serena, firma, duradoura e realista uma pretensa e justa causa de podermos ver subir a bandeira das nossas cores, fazendo de cada qual um eleito, porque valente e imortal.

 

 

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