Por
Gazeta Paços de Ferreira

27/06/2021, 13:06 h

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Geografia dos Europeus de Futebol

Ricardo Neto


A história dos Campeonatos Europeus de Futebol começou em 1960, com a participação de 17 equipas na fase de qualificação, que determinou as quatro equipas, que participaram no primeiro europeu de sempre.

Nesse campeonato, disputado em França, fizeram-se presentes, para além do país anfitrião, três selecções de futebol de países que já não existem: Jugoslávia, Checoslováquia e União Soviética.

Esta última foi a grande vencedora, ao derrotar na final os jugoslavos.

Portugal, nessa edição, iniciou a qualificação eliminando uma outra selecção inexistente actualmente, a República Democrática Alemã, mas acabaria eliminada nos oitavos finais pela Jugoslávia. Apesar da vitória portuguesa por 2-1 em Lisboa, a derrota por 5-1 em Belgrado, fez cair a nossa selecção. No jogo de Lisboa, um dos golos foi obtido por Santana, um nome presente na história do SC Freamunde, onde se notabilizou como jogador e treinador.

Num período em que os extremos políticos se gladiavam, o general Franco, nos oitavos finais da qualificação para este europeu, proibiu a selecção de Espanha de viajar até Moscovo, não querendo arriscar uma derrota contra os comunistas.

Quatro anos volvidos, o Europeu de Futebol é realizado em Espanha, e a equipa de ‘nuestros hermanos’ derrotou na final a sua congénere soviética.

No europeu de 1992, a geografia europeia viria a sofrer várias mudanças.

A União Soviética realizou a qualificação e venceu o seu grupo, mas no Europeu da Suécia esta selecção não participou com as cores rubras da União Soviética, e entrou em campo como CEI (Comunidade de Estados Independentes).

Nessa qualificação, a Checoslováquia realizou a sua última qualificação, não atingindo a fase a final. Da divisão deste país nasceram a Eslováquia e a República Checa, que, quatro anos depois, iria eliminar Portugal no europeu de Inglaterra.

As duas Alemanhas, a RDA e a RFA, apesar de terem sido seleccionadas para os potes do sorteio da fase qualificação em separado, iriam jogar pela primeira uma qualificação e uma fase final unificadas, sendo apenas derrotadas pela Dinamarca na final em Gotemburgo.

Curiosamente a Dinamarca, apenas participaria neste europeu que venceu, porque a poderosa, e talvez a melhor selecção nesse momento - a Jugoslávia - foi impedida de participar em consequência da guerra entre as nações da antiga Jugoslávia.

No fim do conflito, a Jugoslávia desmembrou-se, ao longo de vários anos, em novas nações, como a Croácia, a Sérvia, a Eslovénia, a Bósnia e Herzegovina, o Kosovo, o Montenegro e a Macedónia do Norte.

Esta última estreia-se no Europeu deste ano, e estreia a sua nova designação.

Após a independência da Macedónia eslava, o nome de ‘Macedónia’ não foi aceite pelos gregos, porque os territórios macedónios estão dispersos em grande parte pela Grécia, outra parte na actual Macedónia do Norte e ainda uma outra parte menor na Bulgária.

Em 1991, os gregos aceitaram reconhecer este novo país sob o nome provisório de F.Y.R.O.M (Antiga República Jugoslava da Macedónia), contudo o provisório foi-se arrastando, e a paciência dos gregos foi-se esgotando, porque um pouco por todo o mundo, este facto era ignorado, e apelidavam este novo país de Macedónia.

Até que em 2018, o acordo entre as duas nações foi possível e, assim, nasceu a Macedónia do Norte. Contudo, a questão continua sempre quente entre norte-macedónios e gregos.

Em agosto de 2018, aquando da visita do SL Benfica a Salónica, a maior cidade da região da Macedónia na Grécia, os adeptos do PAOK exibiram uma enorme faixa que dizia: Macedónia é só uma e é aqui…

Outro país que se viu, e vê, ‘grego’ para que o seu nome seja respeitado e utilizado, são os Países Baixos.

Se repararem nas transmissões televisivas, no cantinho dos jogos dos neerlandeses (e não holandeses) vemos PBA e não a sigla HOL de Holanda, como sempre nos habituamos a ver.

Isto foi consequência duma campanha do governo neerlandês, para que a sua nação seja oficialmente tratada por Países Baixos.

E, a partir do dia 1 de janeiro de 2020, todas as instituições neerlandesas foram obrigados a referir-se ao país como Países Baixos.

Embora muitos países já os tratassem por Países Baixos (Netherlands), outros, como Portugal, têm muito enraizadas as designações Holanda e holandeses.

E existe uma razão simples. Holanda é o nome de duas das regiões dos Países Baixos, Holanda do Norte e Holanda do Sul, e estando estas duas regiões junto à costa, era aqui que muitos europeus e não europeus se deslocavam para realizar transacções comerciais, e era também a partir daqui que partiam os mercadores holandeses para todo o mundo.

Em suma, a face dos interlocutores neerlandeses com o mundo era quase sempre a face de um originário da Holanda, um holandês. O mundo conheceu os holandeses e apelidou toda aquela região de Holanda.

Mas agora imaginem se o mundo chamasse de Alfacinhas a todos os portugueses, apenas porque as caravelas saíram de Lisboa? Se assim fosse, era caso para criarmos a nação de Portugal do Norte, nem que fosse de forma provisória…

Ricardo Neto

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