08/03/2025, 20:02 h
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Cultura Opinião Abílio Travessas
CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
A memória da morte suicidária de Getúlio Vargas, presidente do Brasil, ditador chegado ao poder por golpe militar em 1930 derrubando Luís Carlos Prestes e criando o Estado Novo, vem da leitura de duas revistas brasileiras, Cruzeiro e Manchete, trazidas por mãos familiares. O escritor brasileiro Ruben da Fonseca leva-nos aos tempos conturbados do suicídio no romance Agosto: “A poucos kms dali o tenente Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal do presidente Getúlio Vargas começa a arquitectar outro crime: o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, que terminaria, vinte e três dias depois na maior tragédia política do Brasil” – na badana do livro.
Vamos à versão relacionada com Getúlio, porque tudo tem uma história.
O grito, FRA, parece provir dos tempos conturbados da Crise Académica (Frente Revolucionária Académica ou Falange de Renovação Académica) inspirado no FRA brasileiro que alguns estudantes cariocas em finais do séc 19 terão criado – grito que voltaria a fazer-se ouvir em Coimbra pelos refugiados estudantes brasileiros albergados em Repúblicas coimbrãs, nomeadamente na Real República dos Cágados. Estes estudantes recriam a Frente Republicana Académica de outrora gritando FRA contra o regime de Getúlio Vargas (1883-1954), instaurador de ditadura de cariz populista, como Juan Péron na Argentina – Não chores por mim Argentina, do musical sobre Eva Péron, a mãe dos pobres, mulher do caudilho.
O grito passará para os quartanistas de Medicina que em 1938 o estreiam no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, rapidamente passando a todos os cursos que nessa Queima o cristalizam e oficializam. O grito passa por vários contextos como o futebol, ouvindo-se nas partidas da Briosa para incentivar, exteriorizar e expressar alegria, como na Crise Académica de 1969.
Arriqua é corruptela de aliqua para facilitismo fonético mais marcado e sonante; também pode ter influência do grito do Orfeão do Porto que pronuncia arribá ( de arriba, para cima).
Chiribi ta ta ta ta – refere-se a uma marcha carnavalesca lançada em 1936 e tem a ver com os carnavais de estudantes e o grito traduz o espírito de folia, alegria e festa. O f--- -se final é apócrifo.
2ª versão: aquando das Invasões Francesas o “Batalhão Académico da Universidade de Coimbra distinguiu-se na luta contra as tropas francesas comandadas por Junot e brilhou na tomada da cidade da Figueira da Foz e 1808”; os estudantes foram chamados a combater. Tocavam todos os sinos da cidade e as pessoas acudiam aos estudantes gritando À Férrea, À Férrea! chamando para a reunião que se dava na Porta Férrea, onde os franceses jamais passariam.
A evolução fonética gerou o grito académico AFeReA (FRA) grito adaptado pelos estudantes no fim das Assembleias Magnas, enquanto acto simbólico de convocação duma revolta estudantil e nas manhãs dos Cortejos a chamar para a festa.
Nota: este texto serviu de base para botar faladura em encontro anual entre amigos, que jogaram futebol na Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra. Precisou de alguma pesquisa na Internet e numa História de Portugal, entrada sobre Batalhões Académicos.
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