30/03/2023, 0:00 h
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Cristiano Ribeiro
Lisboa assistiu recentemente a um megaevento que teve um duplo significado, cultural e politico. Tratou-se do concerto de Roger Waters, em atuação dois dias seguidos, no Altice Arena, no inicio de uma digressão europeia de nome This is not a drill.
Roger antigo membro da banda Pink Floyd, diz-nos que aos 79 anos pode ser ainda uma referência cultural universal, proporcionando um espetáculo vanguardista e impressivo. Quem não teve oportunidade de o ver ao vivo, tem no YouTube um registo verdadeiro da sua atuação.
Mas Roger Waters é na presente data muito mais do que um músico superdotado, ainda com muita vitalidade e criatividade. Waters representa uma voz única e importante na defesa de causas públicas. Ele combate no discurso e na produção cultural os lobies do pensamento único, da segregação politica e religiosa, da manipulação mediática, do capitalismo feroz.
E isso anuncia-se nos primeiros compassos do espetáculo lisboeta: “Quem veio para ouvir as músicas dos Pink Floyd e não está para levar com as politiquices de Roger Waters, pode pôr-se na alheta”. Esta sinceridade, esta lúcida provocação, diz tudo. É um libelo acusatório contra a alienação, a desresponsabilização, a cobardia dos que abandonam causas sociais em favor de estritos interesses particulares. São conhecidos alguns elementos simbólicos da sua produção musical: os "cães", representam capitalistas fervorosos, os "porcos", simbolizando a corrupção política, e as "ovelhas", que representam os explorados.
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Roger identifica muito claramente os adversários da sociedade, o grande capital, os políticos mafiosos, o império decadente.
Concorde-se ou não. Está na primeira linha na defesa da liberdade de expressão, da libertação do jornalista australiano Julian Assange, vitima indecorosa do sistema politico e judicial por denunciar os seus podres e os seus crimes mais ou menos ocultos.
Está na primeira linha na defesa da causa palestiniana, contra a atuação do Estado de Israel, que mantém na Palestina ocupada a maior prisão a céu aberto do mundo.
Apoia por isso a campanha internacional BDS (Boycot, Desinvestimento, Sanções) contra Israel.
Está na primeira linha da luta e denúncia da guerra, explicando as suas razões iniciais e dinâmicas recentes.
Aliás o mainstream politico internacional abomina Waters e só não o prende pelo impacto da sua personalidade. Os seus concertos na Polónia foram cancelados por mera censura das autoridades, e em Frankfurt, um lóbi judeu germanófilo, fê-lo igualmente alegando uma pretensa identidade “antissemita”do autor. Isto aconteceu nas barbas sujas das instituições e justiça europeias.
Aliás deve ser referido que a comunidade israelita em Portugal (ou melhor, os seus lideres radicais) pressionaram vergonhosamente a Altice Arena para não receber os concertos em Lisboa.
Contavam com o facto do principal patrocinador da Altice Arena, ser um capitalista judeu israelita de nome Patrick Drahi. Ao que se sabe, este bem pressionou nesse sentido, mas como a exploração do Altice Arena está entregue à Arena Atlântico, de Luis Montez, esta terá alegado que a venda dos bilhetes de ingresso já estava esgotada. E os concertos aconteceram.
Mas fica a conclusão de que vivemos uma situação que envolve todos os perigos para a liberdade de expressão, e que não se espere da parte das autoridades formais segurança e coerência na aplicação concreta de princípios democráticos.
Apetece: me dizer: Wish you are here … everyday , Roger Waters.
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