Por
Gazeta Paços de Ferreira

05/10/2024, 0:00 h

491

Batem à porta!

Cultura Opinião Ricardo Neto

OPINIÃO

- Vá, traga consigo o que tem, e vamos sair daqui rápido! Antes que o fogo nos consuma a todos! – Luís agarrou num saco, colocou algumas coisas, e saiu!

Por Ricardo Jorge Neto

CONTO

 

 

Luís era um homem… Batem à porta! Luís era um homem de poucas palavras… Batem de novo à porta! Luís era um homem de poucas palavras, que vivia… Batem à porta sem parar!
 

 

- Está aí alguém? Saia de casa rápido!
 

 

De repente ouve-se um estrondo e a porta abre-se! Dentro da casa, Luís, visivelmente assustado, fica sem reacção, e o guarda diz:
 

 

- Vá, traga consigo o que tem, e vamos sair daqui rápido! Antes que o fogo nos consuma a todos! – Luís agarrou num saco, colocou algumas coisas, e saiu!
 

 

Pela janela do carro, vêem-se longas cortinas vermelhas, parece que o inferno desceu à Terra. Ao fundo, um carro de bombeiros aproxima-se, e, ao cruzarem-se, Luís fica com o olhar preso num homem que segue no carro de combate. Era mais velho que ele, tinha o rosto cinzento, e os olhos fundos e cansados, mas ao ver Luís, levantou a mão e sorriu, dizendo com o olhar que tudo iria acabar bem.
 

 

Chegados ao centro populacional, é-lhe dito que poderá dormir no pavilhão da vila, e que lá encontrará a ajuda necessária.

 

 

No rádio, surge mais um apelo de ajuda, e os polícias arrancam a toda a velocidade. Luís ficou ali parado, a observar todo o cenário, que se montara em torno da tragédia.

 

 

Dum lado, um político promete perseguir criminosos, lavando as suas mãos como Pilatos, e no outro lado, um jornalista tenta espremer a tragédia até à última gota.

 

 

A noite passou, e o dia amanheceu com fumo a fingir ser nevoeiro.

 

 

Luís levantou-se, pegou no saco, onde tinha colocado algumas jóias, e saiu do pavilhão onde dormira. Ao atravessar a estrada, encontra o carro dos polícias, que o salvaram, e, pelas caras, ainda não tinham ido à cama:
 

 

- Bom dia precisa de ajuda? Vá, entre! Vamos leva-lo a casa, vai precisar de nós! Coragem!
Luís ainda hesitou, mas acabou por entrar na viatura. Os agentes foram puxando conversa, confortando-o. As jóias, que conseguira resgatar, poderiam ajudar no recomeço da sua vida, mas Luís quase não falava.

 

 

ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

 

 

Chegados à casa, vêm uma mulher de joelhos a chorar diante das cinzas, do que antes fora a sua casa…
 

 

- É a sua esposa!... – Exclamam os agentes, e saem do carro a correr. A senhora estava destroçada!
 

 

- A vida continua, minha senhora! E pelo menos trouxemos o seu marido, que ia ficando em casa, se não o viéssemos buscar!
 

 

- Marido? Eu não tenho marido… - Responde a mulher entre os soluços!
 

 

- Então quem está ali no carro?
 

 

Os agentes correm para o carro, mas Luís tinha fugido! Contudo, deixara, no banco de trás, o saco de jóias, que tentara roubar na noite anterior!

 

 

Luís era um homem de poucas palavras, que vivia de ocasiões para fazer assaltos. Mas nesta noite, e ao contrário de muitos outros homens sem escrúpulos, Luís teve coração!

 

 

 

 

Opinião

Opinião

Vamos falar de Investimentos? – parte X

21/04/2025

Opinião

ATÉ OS COMEMOS

20/04/2025

Opinião

Carta aberta de um cidadão do mundo - ao Presidente Trump

20/04/2025

Opinião

A dança de cadeiras

19/04/2025