08/10/2025, 10:11 h
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Cultura Opinião Abílio Travessas
CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
Mortinhos por sair de casa, programa informativo da RDP 1 de Rui Alves de Sousa que, alargado, preencheu bem o Agosto da sigla inglesa (que recuso em nome de resistência quixotesca contra a invasão da língua bárbara -na sentença do escritor e jornalista do “onde estavas no 25 de Abril?”) informando tudo o que de interesse se passa aqui. Assim tive conhecimento de A gente (não) lê - Festival Literário de Manhouce – SP do Sul – Resistir, Escola Primária de Manhouce, 6 e 7 de Setembro. O que nos levou lá? Literatura, Resistência e Feminismo – três mulheres e uma conversa moderada por Joana Neves. Mas foi decisivo para a deslocação a oportunidade para ouvir Isabel do Carmo e Rita Rato com moderação de Catarina Marques Rodrigues.
Já no Documentário montado por Sofia T C Gomes – Mulheres e Resistência, na Escola Primária, 90 anos completados em Julho, assistimos a depoimentos de mulheres torturadas pela Pide que me levou a reflectir sobre tortura e classe social. Isabel do Carmo (Militou no Partido Comunista Português dos 18 aos 30 anos. … Fez parte dos corpos gerentes da Ordem dos Médicos de Lisboa e Sul até ser fechada em 1973 pela PIDE, altura em que foi presa. – da badana de Luta Armada - As Brigadas Revolucionárias, a ARA e a LUAR contadas pelos seus dirigentes. E os dias de fúria da Europa rebelde – Isabel do Carmo), da classe média, apoios familiares, sofreu tortura física menos violenta comparada com a que as operárias e trabalhadoras rurais sofriam, vexames psicológicos, obrigadas a despirem-se, vergonha que as Pides bem sabiam causar, dada a cultura rural em que a intimidade tem valor. Mas se as classes que a sociedade colocava mais baixo na hierarquia eram as mais torturadas, a violência extrema sobre os autóctones das colónias, como foi documentado em vários episódios do P2 do Público, atingia tais horrores que não consegui passar da leitura do primeiro. A imagem tão difundida de um colonialismo suave era negada brutalmente. Não há colonialismos bons.
Isabel do Carmo e Rita Rato, esta muito mais nova, alentejana que só o 25 Libertador permitiu estudar e chegar à Universidade, directora do Museu da Resistência no antigo Aljube, deram-nos testemunhos diferentes mas bem reveladores de tempos de ignomínia, de medo, de “vergonha de ser pobre”, de andar descalço, de ter fome. Interessava-me ouvir Isabel do Carmo, médica especialista, percurso de luta que me emocionou quando tive a oportunidade de intervir, no tempo dado ao público. Foi por ela que decidi ir a Manhouce do Portugal esquecido e foi com reconhecimento que lhe ofereci o meu livro de crónicas.
Palavra final para a Escola Primária, museu dos anos 40/50, mapas, fotografias de alunos, livros da época, que me levaram a tempos que também vivi. Manhouce é um milagre de resistência …
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