18/02/2021, 1:01 h
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Sentes que a paz vai dando lugar ao medo? Ao desespero e à desesperança?
Sentes que a tristeza não para de bater à tua porta e, furiosa, entra mesmo sem ser convidada? Reclamando para si um lugar em ti onde antes só havia sol?
A incerteza entra com ela e também se aninha num canto do teu peito.
Parece que a tristeza é mãe de muitos sentimentos com os quais não te sentes à-vontade, e não se coibiu de os levar consigo nesta jornada pela tua alma.
Tu estás de quarentena. Mas os sentimentos, não. Os sentimentos não fazem quarentena. Não tiram férias. Não fogem. Não se escondem.
Vão chegando. Sejam bons ou maus.
E perturbam-te.
Vês os dias passarem pela janela do teu quarto. A tua rotina está resumida a um passeio entre o quarto e a cozinha. Não sabes que outros lugares hás de explorar. Faltam ideias.
Não sentes vontade de ler. De ver séries. De cantar.
A incerteza, o medo, o desespero, e a tristeza, essa maldita, começam a acumular-se no peito. Dificultam a tua respiração.
Queres chorar, porém, tens vergonha de o fazer. Sabes que não estás feliz, mas também não estás triste, e esta indefinição atormenta-te.
Queres chorar porque não sabes como será a tua vida depois disto. Não sabes sequer como vais sobreviver a isto. Eu entendo. Também o sinto.
A vida parou, e apesar de o mundo continuar a girar, sabes que também ele está cansado, e essa realidade assusta-te.
Como? Quando? Porquê? E depois? E se?
Para. Apenas para.
Não te tortures com perguntas para as quais nem sabes se irás arranjar uma resposta.
Vive o agora. Reinventa-te.
Limpa o pó. Põe aquele disco a tocar. Colhe flores no jardim e adorna o quarto. Medita. Revê fotografias antigas. Lê cartas que estavam guardadas. Inventa novas receitas. Faz um curso de línguas online. Aprende a desenhar. Faz coisas que nunca imaginaste fazer, mesmo que as faças dentro de casa.
O mundo é bonito. A vida é bonita. E a tua história é bonita, escreve-a.
Quando tudo passar, terás memórias felizes para te lembrar de que nada será como era antes, mas ainda estás aqui. Sobreviveste. Podes recomeçar.
Letícia Brito
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