Por
Gazeta Paços de Ferreira

06/08/2021, 22:36 h

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SE UM DIA EU MANDAR…

Joaquim Leal

Se um dia eu mandar, não irei agrilhoar aqueles que discordam do que penso, que defendem que o futuro deve percorrer outros caminhos, com outras cores. Contudo – e podem acusar-me desde já que me contradigo – reservarei um tratamento especial para aqueles que tratam de impedir-me de pensar pela minha própria cabeça; que querem retirar-me o prazer de viver num país onde o arco-íris da pele é uma riqueza, não uma mancha de óleo queimado; que querem que as opções que contribuem para a felicidade individual e não afetam o bem coletivo regressem ao armário. Para esses, e para esses apenas, irei promover a criação duma vacina que interrompa a propagação do vírus pestilento, eliminando-o, ou, no mínimo, aprisionando-o numa redoma de aço, não lhe deixando qualquer espaço para germinar e destilar veneno.

Se um dia eu mandar – e talvez isso nunca aconteça – haverá justiça. Todas as pessoas terão, por direito, uma vida digna, uma casa decente, um emprego bem remunerado, saúde, educação, alimento. Os pobres não desaparecerão porque os escondemos longe das vistas, ou porque os matámos, mas porque haverá equidade na distribuição das riquezas, que é o que basta.

Se um dia eu mandar – e, acreditem, mais de meio mundo se encarregará de que isso não aconteça – os velhos deixarão de ser engaiolados em grandes espaços de que nem os pássaros gostam, privados da sua preciosa liberdade, sem vida própria, à margem duma sociedade que desvia o olhar para que o que vê não a incomode. Os velhos labutaram uma vida inteira, mas tornaram-se um empecilho, um entrave à felicidade alheia. Talvez alguns nem sequer mereçam, mas, um dia, se eu mandar, todos os velhos serão gente, e não farrapos, coisas usadas que se lançam no caixote do lixo.

Eu, mais que ninguém, sei que o que prometo não passa duma estúpida utopia; que o mundo será sempre desigual; que os mais fortes e os mais desonestos tenderão a triunfar. Por isso, se um dia eu mandar, serei mais realista. Virar-me-ei para a imensidão do mar, pedindo-lhe permissão para alisar as ondas. Depois, estabelecendo a ligação de todas as ilhas, continentes e povos de todos os recantos do mundo, abrirei novas rotas por onde seja possível navegar em segurança. Esse será um dia sublime! Terei como país o amplo universo, não um pedaço de terra com fronteiras edificadas por egoístas e ambiciosos homens que fazem guerras com a pele e o sangue dos súbditos.

Joaquim António Leal

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