RAIOS OS PARTAM

Hoje vou falar dos fiscais do desconfinamento. São empenhados e implacáveis guardiões da mais ortodoxa postura comportamental, cientes de uma autoridade moral outorgada que lhes permite ser ou parecer importantes. São os novos pides, de régua e esquadro a medir distâncias ou a erigir prudências ou riscos. Se os números da realidade os contrariam, lá estão eles a ser mais papistas que o papa, mais pessimistas que a má sorte. Se em Portugal a pandemia se mostra mais inclemente do que na Alemanha, lá está evidente a virtude germânica do rigor a sobrepor-se ao facilitismo lusitano. Se é o contrário, lá está o perigo do vírus alemão a remetermo-nos para a extrema inquietude, logo para a atitude extrema de alerta máximo. Eles tiram fotografias das esplanadas, das concentrações, das praias e dos jardins. Está na hora de os remunerar, um salário fixo pelos bons serviços prestados á causa da disseminação do medo e da delação.

Há também os faroleiros da vacinação. Por mais que lhes digam que os riscos são um pouco mais de 0,000000%, eles persistem em nos angustiar, em nos cantar a cantiga do ladrão, em sinalizar aquela incerteza, aquela dúvida, aquela possibilidade que se esconde no mundo das imunidades. Andam os profissionais de saúde a esfalfar-se por administrar vacinas, esforço quase sem hora e sem reconhecimento, missão quase evangélica e os faroleiros da vacinação do alto das suas torres de ignorância e superficialidade vão gritando que os Deuses podem estar loucos. Não há pachorra para tanta burrice. 

Há por último a desgraça de muitos políticos, que sem rumo ou direção, vogam ao sabor das ondas mediáticas, suspendendo aqui, não arriscando aqui, protelando ali, mas sobretudo apenas gerindo a expetativa da sua sobrevivência. As mortes que se lixem. A vacinação que espere. Há índices de popularidade a promover.      

CRISTIANO RIBEIRO, Dirigente do PCP

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