Canach é uma pequena vila luxemburguesa onde podemos encontrar um clube chamado FC Jeunesse Canach, que já foi treinado por um conhecido dos freamundenses, Oseias que foi um dos protagonistas da subida do SC Freamunde à Segunda Liga em 2007. Mas o que une esta cidade e este clube, a Freamunde e ao título deste artigo, é o facto de no plantel actual do Jeunesse Canach, a atuar na segunda divisão luxemburguesa, perfilarem 2 antigos jogadores do Freamunde, vítimas insultos racistas em 2014, o camaronês Nana K e o costa-marfinense Dally.
O primeiro, Nana K, após descida do Freamunde ao Campeonato Nacional de Seniores, rumou para o Salgueiros, equipa que ficou na mesma série do Freamunde. No dia 19 de janeiro de 2014, o Salgueiros foi visitar o Boavista, que brigava com o Freamunde pela liderança da série. Nesse jogo, após o árbitro João Pinheiro ter expulsado Bobô (actualmente no Tirsense) por falta sobre Nana K, os adeptos boavisteiros não pouparam o camaronês e injuriaram o atleta durante o resto do jogo, tendo o mesmo jogador escrito nesse dia nas redes sociais que tivera um dos piores dia da sua vida. No dia seguinte, na imprensa tivemos um único jornal que colocou um pequeno recorte que dizia: ‘’nota negativa para os cânticos racistas entoados pelas claques da casa, dirigidas ao camaronês Nana K’’. E a história acabou aqui.
Em 21 de dezembro do mesmo ano, no jogo Chaves-Freamunde, correu mundo o vídeo do festejo ortodoxo de avançado freamundense Dally, que após marcar o golo do empate, baixou os calções em direcção à claque flaviense. A reacção inusitada do costa-marfinense que foi partilhada mundo fora, não era mais do que uma reacção não pensada aos vários insultos racistas que o tinham como alvo. Dally acabaria expulso pelo mesmo árbitro que amarelou Marega no jogo Vitória-Porto, Luís Godinho. Desta vez o caso não foi esquecido, e em julho de 2015, o Desportivo de Chaves haveria de ser castigado com um jogo à porta fechada e 7.140 euros de multa. O clube flaviense não recorreu da decisão e pediu desculpas ao Freamunde e ao atleta, num comunicado onde também citou não ser um clube racista nem xenófobo. E a história acabou aqui.
Dally e Nana K são exemplos da mesma dimensão humana de Marega, mas como desportivamente reportavam a clubes pequenos, nunca tiveram o seu devido tratamento. Infelizmente as histórias de Dally, Nana K e de muitos acabaram esquecidas, mas se tivessem sido levados a sério, com a tomada de medidas, talvez o caso Marega não existisse.
Este domingo, beneficiando dos holofotes dos clubes grandes, Marega colocou a nú os comportamentos racistas que outros sozinhos tiveram de sofrer durante aqueles 90 minutos, que são revividos em muitas noites mal dormidas ao sabor da injustiça e da desumanidade. Ao sair de campo, o maliano fez justiça e deu voz a todos os Maregas do ´pequenos’!
Ricardo Neto

