04/09/2021, 6:21 h
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Quem tem um cão sabe o quanto é difícil educá-los, ensiná-los a respeitar as nossas ordens. É preciso habituá-los a fazerem as necessidades na rua. Treiná-los para que não se metam em brigas com cada cão que se cruzam durante um passeio. Ensiná-los a usarem os brinquedos para o seu propósito e não para comer [sim, o meu cão deixou de ter brinquedos porque optava sempre por ingeri-los]. Permitir-lhes que brinquem na terra, mas fazê-los entender que é errado cavarem buracos para chegarem à Rússia. Ensiná-los a respeitar-nos enquanto lhes colocamos a ração na taça. Habituá-los a passearem sem arrastarem o dono. Enfim, há uma série de coisas que tentamos ensinar aos nossos amigos de quatro patas.
Ao meu, por exemplo, ensinei-o que quando quer um biscoito deve recebê-lo devagarinho. Por ser um cão de porte grande, um Braco Alemão, tem tendência a abrir a boca e a tentar engolir o biscoito [e a minha mão], assim, sempre que recebe o biscoito, perante o meu comando, recebe-o com cuidado. Esta é uma raça muito energética e que por incrível que pareça nunca se cansa, então ensinei-o a receber miminho, que é uma forma educada de ficar calmo e permitir que lhe faça carinhos, já que em circunstâncias normais, e por se tratar de um cão com muita força, não consigo segurá-lo para brincar com ele. Senta-se quando quer bolachas, não se aproxima da taça da ração sem ser autorizado, não sobe as escadas para o interior de casa sem que seja dada ordem para tal. E apesar de ter muitos pontos a melhorar, é um cão saudável, feliz e educado.
Contudo, mais importante do que educar os cães é crucial educar as pessoas. É comum passearmos na rua e completos desconhecidos pararem-nos para se agarrarem ao cão e o encherem de beijos. Mas então? Se ele fosse um bebé reagiriam da mesma forma? Já ponderaram a possibilidade de ser mordidos? De que o dono pode não gostar?
Ainda mais comum são as pessoas que passam no portão da casa e o chamam para brincar, enfiando as mãos pelas grades adentro e incentivando o cão. Calma lá! Acreditam que é seguro o que estão a fazer? Se há um aviso de «cuidado com o cão», será mesmo necessário chamarem um cão que não conhecem? Enfiarem as mãos em propriedade privada sujeitos a ser mordidos? Mesmo quando o cão não é agressivo, devido ao seu porte e força é um cão que pode magoar. Digo-o por experiência. Sou a dona. Já caí. Já fui mordida em brincadeiras. Já me magoei. Se é perigoso? Não. Se se pode tornar perigoso para desconhecidos? É uma incógnita. Nenhum dono de cão sabe se o seu animal, por mais educado e brincalhão que seja, se pode tornar perigoso para pessoas que não conhece. Então, porquê arriscar?
Se o dono abre o portão e o cão corre para a rua, por que é que as pessoas que passam na rua chamam o cão para brincar mesmo escutando o dono a chamá-lo para dentro de casa? Gostam de desafiar a autoridade do dono? Gostam de desafiar o instinto do animal?
Esta é uma missiva para os desconhecidos, para aqueles que brincam com os cães alheios, que os chamam, incentivam, desafiam. Uma coisa é verem um cãozinho de rua e o chamarem para lhe darem carinho, outra é verem um cão numa trela, acompanhado pelo respetivo dono, e agarrarem-se a ele como se o conhecessem desde sempre. Nós, os donos, não gostamos. Sabemos que o nosso cão é bonito, é sociável, é brincalhão. Sabemos. Mas não gostamos. Criamos os nossos animais como parte da família, também não gostaríamos se tivessem a mesma reação com uma criança. Podem ver, podem elogiar, «que cão tão giro». Mas se quiserem tocar-lhe fica sempre bem e é mais seguro perguntar, «Posso tocar-lhe? Não é perigoso?». O dono agradece, o cão também. E vocês irão agradecer no futuro.
Leticia Brito
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