21/04/2021, 15:46 h
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A decisão instrutória do processo Marquês, em que o principal arguido é o antigo primeiro – ministro José Sócrates, provocou uma histeria no país, de dimensões inusitadas, que atingiu o seu ponto alto com o que já foi chamada de nova modalidade desportiva: o tiro ao juiz.
Nada que se possa estranhar, desde que se tenham em mente as sucessivas violações do segredo de justiça, selectivas e direccionadas, que levaram os cidadãos a irem fazendo o seu próprio julgamento, naturalmente, no sentido da condenação.
Assim, os cidadãos sentiram-se “traídos”, “ofendidos” e ei-los que se revoltam.
Terão razão para tanto?
Têm e não têm.
Em primeiro lugar os cidadãos têm inteira razão para se indignarem com o surgimento, pelo menos a partir da última década do século passado, de processos a envolverem personalidades relevantes do poder económico e do poder politico: Face Oculta, Parcerias Público-Privadas, EDP, rendas da energia, Parque Escolar, PT, BES, BESA, BPP, BPN, Montepio, etc.
Trata-se, como escreve Manuel Loff (PUBLICO 13.3.21) do processo de re-oligarquização do sistema político português que o cavaquismo (1985-95) iniciou, o guterrismo (1995-2002)prosseguiu e que os governos da financeirização da economia consolidaram(Durão, Santana, Sócrates e Passos ), e que se caracteriza pela “integração sistémica” entre governantes e o mundo de negócios .
Têm razão em se indignarem com as contantes violações do segredo de justiça, as demoras na aplicação da justiça, investigações criminais de vulto paradas durante anos, instruções e julgamentos que duram anosa, falta de meios denunciada pelos órgãos de investigação e as imensas prescrições, entre tantas matérias.
Não têm razão em alinhar em petições inadequadas e ineficazes contra juízes, nem berrar histericamente contra o mundo, o que não levará a lado nenhum.
E nem aguardar por manhãs de nevoeiro.
Talvez seja preferível exigir um rigoroso cumprimento do exercício das suas funções àqueles que elegemos, e ponderar a eventualidade de dar o voto àqueles, que não se mostrem disponíveis para andar de braço dado com as elites dos grupos económicos e financeiros.
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