Por
Gazeta Paços de Ferreira

27/06/2021, 8:21 h

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Croniquetas em tempo de lamber as feridas | 11. O fofo

Cultura

Um dos meus focos de atenção era a logística montada para fazer movimentar aquele microcosmos. O espaço era pequeno, com uma trintena de internados, todos sentados, com autonomia limitadíssima atados às botijas de oxigénio; porém, ali no covidário, havia muita coisa a mexer, em sede de maquinaria tecnologicamente avançada que ia medindo valores e fazendo exames de paciente em paciente e em grupos humanos especializados que multidisciplinarmente iam cumprindo suas tarefas profissionais: médicas, enfermeiras, assistentes-técnicos, limpeza, auxiliares, e até alimentação.

Por volta das 4 da manhã de domingo, 31, perguntam-me se queria comer. Eu, que praticamente andava há dias sem comer, por fastio absoluto, decido aceitar uma sopa pastosa, quentinha, que comecei a comer e a gostar, com ligeiro sabor a peixe, pensando para comigo:

-Não tenhas dúvidas, Eduardo, para estares a comer ISTO é porque estás a recuperar. Bom sinal!

A seguir deram-me uma maçã amarela, ouvi que para diabéticos, e comecei a comê-la deliciado e surpreendido. Que coisa boa!

Entretanto, chegou a altura da mudança de giro das médicas, que faziam a passagem do testemunho visitando cada doente e indo caraterizando a situação pessoal de cada um.

Acercando-se de mim, a médica que estava a liderar a ronda aproxima-se e diz:

– Ah! Este senhor é um fofo!

Não me surpreendi. Sou mesmo. E claro que sei porquê. Disciplinado, cumpridor, sem ondas nem ais, sem protestos nem reclamações (e até a comer a sopa pastosa quentinha!), eu era ali o doente ideal que não tugia, não mugia, não berrava, não exigia, dizia que sim a todas as «maldades» (picadelas, medições, controlo do oxigénio, da máscara, etc., etc.) que me faziam. Evidente que eu era mesmo um fofo. Diria mesmo… um fofinho!

É claro que eu, observando bem aquelas estóicas garotas, escondidas em protetoríssimas indumentárias que, queixou-se-me uma delas, eram quentíssimas e pesadas, bem nas via lindas e cheias de força, corajosas e simpáticas, e pensava em como elas, sim, é que eram bem fofinhas!!!!!

E apeteceu-me transformar-me num coelho fofo e andar a saltitar à volta delas!

Eduardo Ribeiro, Licenciado em Direito, Aposentado

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