04/09/2020, 0:51 h
75
Em 1937 o futebol desconhecia o vazio do mediatismo das plataformas de visualização, e vivia de barriga cheia com a paixão descarada dos seus adeptos que seguiam as suas equipas para qualquer lugar, mesmo no dia de Natal.
E foi no dia de Natal de 1937, que uma lenda do Charlton, o guarda-redes Sam Bartram viveu um dos seus episódios mais curiosos nos seus 22 anos de atividade representando o Charlton em 623 jogos.
Este clube acabou por imortaliza-lo com uma estátua em frente ao estádio The Valley no sul de Londres.
Nesse dia de Natal de 1937, Londres acordou com um denso nevoeiro e alguns jogos foram cancelados por falta de visibilidade.
Mas em Stamdford Bridge houve mesmo jogo, com a equipa da casa, o Chelsea FC, recebendo os rivais da zona sul da cidade, o Charlton Athletic.
Apesar do nevoeiro, a primeira parte desenrolou-se sem percalços e o resultado ao intervalo era de 1 a 1. Após o início da segunda parte, um denso nevoeiro se apoderou do recinto do jogo.
Sam Bartram com o avançar da neblina deixou de ver o público nas bancadas, depois os colegas e os adversários no terreno de jogo, e por fim ficou sem ver nada.
Apenas quando o Chelsea se aproximava da sua baliza, ele conseguia deslumbrar os vultos dos outros jogadores.
Depois de algum tempo sem ver vultos pensou que a equipa estaria a massacrar o adversário, mas como não ouvia nenhuma comemoração no meio daquele silêncio, sabia que ainda não tinham marcado o tão esperado golo na baliza do Chelsea. O silêncio continuava, e nem sombra de gente diante dos seus olhos… mas nunca arriscou sair dali para entender o que se passava, não fosse o adversário realizar um ataque relâmpago e ele sofrer um golo por descuido.
Na baliza, Sam Bartram esperava, aquecia, esperava, e nada! Até que um vulto apareceu furando o nevoeiro vindo ao seu encontro. Quando aquela sombra chegou perto de si para sua surpresa era um polícia, que perguntou o que ele fazia ali, pois o jogo tinha sido suspenso há 15 minutos e já não havia ninguém no estádio…
Assine Gazeta de Paços de Ferreira
Assinatura anual 20,00.
Escolhi esta história perdida na memória do futebol como metáfora para a actual situação do desporto nacional.
Setembro é o mês do início da próxima temporada para vários clubes de vários desportos, que tal como Sam Bartram estiveram perdidos num espesso nevoeiro sem ver adeptos e competição.
Retirando da equação os clubes de futebol da primeira Liga, que puderam acabar o campeonato, todos os outros clubes de futebol, de andebol, atletismo, natação, etc, ficaram sozinhos a defender as suas balizas sem esmorecer e sem nunca desistir.
Todos esses clubes, que são na sua maioria amadores e compostos por homens e mulheres movidos pela paixão pelo desporto, merecem uma palavra de apreço e acima de tudo, merecem que todo este nevoeiro levante e que se volte a ver os adeptos, a competição e a festa!
Mas a realidade é incerta, a DGS surgiu como aquele policia por entre o nevoeiro e comunicou as suas directrizes, mas se algumas dúvidas se dissiparam, outras se juntaram, como é o caso particular da competição nos escalões de formação, que infelizmente já fizeram alguns clubes abandonar a ‘baliza’ do desporto de formação
A luta dos clubes e acima de tudo a luta contra este vírus ainda não terminou, infelizmente tal como uma partida de futebol, o desafio contra o corona irá ter uma segunda parte, e todos teremos de permanecer firmes na defesa da nossa baliza, sem nunca arredar pé, para que este maldito nevoeiro levante e nos deixe ver o sol a brilhar ao som duma profunda expiração de alivio!
Ricardo Neto
Opinião
17/08/2025
Opinião
13/08/2025
Opinião
11/08/2025
Opinião
10/08/2025