Por
Gazeta Paços de Ferreira

19/11/2020, 21:45 h

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CANTAR VITÓRIA ANTES DO TEMPO

Opinião

Ricardo Neto

As eleições norte-americanas colocaram o mundo em suspenso durante dias, porque ao contrário do que se previa a vitória de Joe Biden não foi tarefa fácil. A particularidade do sistema eleitoral e a forma como a política é vivida em muitos estados, tornou a incerteza a mais natural das certezas. Contudo na noite da terça-feira mais importante do ano para aquele país, o candidato republicano Donald Trump cantou vitória nas entrelinhas, mas os habituais ‘’swing states’’ (estados que mudam as suas votações) tinham ainda muito a dizer.

As horas e os dias foram passando e as vantagens iniciais de Donald Trump nesses estados foram-se esfumando até que no final das contas Joe Biden se tornou o 46º presidente dos Estados Unidos. Uma das causas desta viragem foi o voto antecipado remetido via correio, e de nada valeu aos correligionários republicanos o saque dos marcos de correios.

Aquele cantar de vitória de Donald Trump precipitado fez recordar o dia em que o jornal Chicago Daily Tribune na manhã de 3 de Novembro de 1948 fez uma capa anunciando a vitória ao governador de Nova York Thomas Dewey, que apesar de todas as sondagens o terem colocado com vencedor dias antes, na verdade o presidente Harry Truman foi o grande vencedor. Correu mundo a foto de Truman segurando o jornal que anunciava o rival Dewey como vencedor, enquanto esboçava um longo sorriso.

O descrédito dado a Truman nessa época surgiu muito do facto de ele ter sido presidente sem que fosse eleito para tal. Nas eleições anteriores a essas, os candidatos foram Thomas Dewey e Franklin D. Roosevelt, e este último vencera facilmente, contudo em Abril de 1945 Roosevelt morreu e Truman como era seu vice-presidente tomou o poder. Olhando para a atualidade, e verificando que um dos fatores que mais condicionaram a campanha de Biden foi a sua idade, que fará 78 anos dentro de dias, num cenário que ninguém deseja, uma fatalidade similar à de Roosevelt, colocaria Kamala Harris como a primeira mulher presidente da nação mais poderosa do mundo. 

O erro de cantar vitória antecipadamente é quase tão antigo como a nossa existência, e todos nós na nossa infância ouvimos a fábula de Esopo da lebre e da tartaruga, mas continuadamente aqui e ali vemos a história repetir-se.

Por cá, lembro-me duma final de futebol da 3ª Divisão Nacional disputada a 5 de junho de 1998 entre o SC Freamunde e o UD Vilafranquense. O Freamunde tinha realizado uma época imaculada, e tinha um conjunto jogadores de alto nível como Bock, Ricardo Fernandes, Paulo Sousa e muitos outros que somados eram a nata deste escalão nacional.

Do outro lado, o pouco conhecido Vilafranquense que tinha um médio centro de seu nome Rui Vitória, que enquanto treinador viria a defrontar o Freamunde em 2007 numa outra final, ao serviço do Fátima, e viria a ser campeão nacional pelo Benfica. O jogo da final foi disputado em Miranda do Corvo, num estádio sem quaisquer condições para receber público, mas o dia era de festa e ninguém se importou com isso.

A euforia e a confiança eram de tal ordem elevadas que na enorme caravana que foi de Freamunde até Coimbra, não havia ninguém, comigo incluído, que sonhasse que alguma vez o Freamunde perderia aquela final… Era tão certa a nossa vitória, que se fizeram camisolas anunciando Freamunde campeão nacional da 3ª Divisão! O jogo iniciou, e ao som das gaitas dos simpáticos adeptos de Vila Franca de Xira, os vermelhos foram somando golos, deixando os capões de queixo de caído… Final do jogo, o Vilafranquense goleara o Freamunde por 3-0!

Moral da história, apesar de sermos capões, cantamos vitória cedo de mais e a tartaruga que veio pela A1 sentido Lisboa-Porto, ultrapassou o Freamunde em pezinhos de lã e venceu para espanto de todos, contrariando as camisolas já estampadas. Contudo se todos vieram em festa, todos em festa foram! E que bom seria, que em todas as eleições, jogos, e outros eventos que opõem homens contra homens, no fim de tudo todos ficassem do mesmo lado, do lado da paz, da serenidade e da lucidez.

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