CANDIDATOS A SONHAR

O Sporting é o atual primeiro classificado com mérito. É um facto inegável. E o mérito está dentro de campo, mas também fora dele. E quando digo fora dele, refiro-me ao treinador.

Muito daquilo que é o Sporting nesta época começa no treinador.

É importante relembrar que Rúben Amorim chegou ao Sporting por 10 milhões de euros. Não tinha habilitações necessárias para poder ser o treinador principal e era, por isso, substituído por Emanuel Ferro. Já no SC Braga, clube anterior, era Micael Sequeira quem assinava a ficha de jogo como treinador principal. 

No Sporting, apanhou o comboio em andamento e falhou o terceiro lugar. Adotou, desde o primeiro dia, um sistema com três centrais e tinha um onze composto por vários jogadores com idade de formação. Não caiu. Sobreviveu a tudo: às críticas pelo valor da sua contratação, pela falta de habitações, por assumir um projeto condenado ao falhanço.

Esta época, construiu um plantel à sua imagem, manteve-se fiel às suas ideias e os resultados estão à vista.

É certo que falhou a Liga Europa (acredito que muito devido aos casos de covid-19 que afetaram a equipa no início da época) e falhou na taça de Portugal (onde o desgaste de jogar de 3 em 3 dias pode ter pesado). Não são desculpas, porque o próprio treinador não se desculpou.

Nem sempre tem jogado bem, até tem vindo a fazer exibições abaixo do esperado, mas não deixa de ganhar. E trabalhar em cima de vitórias é bem diferente de trabalhar pressionado por maus resultados. 

O discurso é mais uma das suas armas. Coerente e humilde. Às vezes até demais. Sabe onde está e os terrenos que pisa.

Mantém a equipa com os pés assentes na terra.

Está bem encaminhado para conquistar o título nacional, o primeiro em dezanove anos. Tem nove pontos de vantagem para o segundo classificado, o SC Braga, a treze jogos do fim. Nem assim assume a candidatura ao título. Diz apenas que é “candidato a sonhar”.

Muitos dirão que título já não foge e que Rúben Amorim já devia ter dito ao mundo que o Sporting é candidato ao título. Mas não precisa. Se os resultados são bons e a base contruída é sólida, não deve mudar o seu discurso. Todos sabemos que o Sporting é candidato, ninguém tem de o dizer.

Pedro Queirós

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