A TODOS VÓS QUE LUTAIS PELA VIDA CONTRA O MEDO (em especial aos profissionais do Hospital Padre Américo)

Atualidade

No dia 3 de Novembro de 2020, recebi uma das mais tristes e angustiantes notícias da minha vida: tinha testado positivo para a COVID-19.

Ao início, e seguindo as normais fases de luto, passei pela Negação “o teste foi mal executado, não sinto nada...”, Raiva “como é que isto me foi acontecer?”, Negociação, Depressão e, até a mais difícil, a Aceitação, juntamente com emoções de tristeza, impotência e medo.

No dia 10 de Novembro, mantinha todas essas emoções e, com o agravamento do meu estado de saúde, foi necessária a minha hospitalização, numa época ainda mais difícil, em que os profissionais de saúde e os serviços estavam repletos de novos casos e com a iminência de rotura.

No dia 13 de Novembro, sexta-feira, popularmente conhecido como um dia de azar e de infortúnio, dei entrada na sala de emergência, tendo sido necessária a minha intubação e ventilação mecânica para estabilizar o quadro de falência respiratória causada pelo coronavírus.

Todo o quadro e cenário foi se agravando.

Nesta altura, sem consciência do que me estava a acontecer, da panóplia de instrumentos, materiais e cuidados de saúde, que eram necessários para me manter vivo, aos meus familiares e amigos prestaram as preces, espiritualidades e crenças no sentido de me quererem de volta consigo.
As notícias não eram muito animadoras, mas sempre, no final do dia e após horas de trabalho, o telefonema lá vinha com um sinal de esperança e tranquilidade de quem, no fundo, sabia que o caso era muito grave e com sinais de ambiguidade de quem adivinha o pior, mas espera o melhor.
Hoje, e após 30 dias de internamento, 10 dos quais em cuidados intensivos, escrevo-vos num sinal de agradecimento e esperança por outros e por vocês.
O mundo nunca mais será o mesmo e o ser humano será diferente, depois da pandemia, que nos assombrou neste o ano de 2020.
Recordá-lo-emos com tristeza, angústia e muito pesar.

O medo estará sempre connosco, sobretudo daqueles que viveram e sentiram a dor do inimigo, a quem chamaram de COVID, que astutamente se infiltra em nós. Sorrateiramente, bate-nos à porta e apodera-se, não só de um mas de todos, sem dó nem piedade.

Protejam-se e fiquem em casa, para que os outros possam sair.

Ainda no meio de tanta angústia, esboço um sorriso de gratidão e é com muito carinho que agradeço e congratulo todos os profissionais de saúde e seus assistentes, desde os seguranças, pessoal da limpeza, administrativos, enfermeiros, médicos e até as mais altas hierarquias, aos bombeiros, que não têm mãos a medir, sempre prontos a socorrer quem precisa.

O meu muito obrigado por terem cuidado tão bem de mim, de todos os que conseguiram acolher.

Diz o ditado que de hora a hora Deus melhora, mas, no pouco tempo em que estive "acordado", o que senti e observei foi de que, de hora a hora, o COVID piora e a entrada de doentes no Hospital Padre Américo em Penafiel era assustadora.
Louvo, louvo e louvo todos os profissionais de saúde pelo esforço sobre-humano, que fizeram e continuam a fazer, para dar ou manter a vida a quem já não tem forças para lutar e que se entrega à morte.
O meu pedido de desculpas pelos momentos de revolta e desespero e o meu muito obrigado pelo vosso esforço, dedicação e amor, com que vocês trataram e tratam tão bem todos os vossos pacientes.
O meu muito obrigado e o meu carinho pelas vossas lágrimas de tristeza e desespero, quando não conseguem manter a vida de quem não conseguiu.
O meu muito obrigado pelas horas de dedicação a todos os que foram tratados nesse hospital, abdicando do conforto das vossas casas, dos afetos dos vossos familiares, das poucas horas que teriam para retemperar forças.
Eu sei que vos levamos à exaustão.
Bem hajam por tudo e por fazerem de nós pessoas diferentes, pessoas melhores.
Um abraço e que Deus vos proteja e abençoe!
António Correia, dezembro de 2020

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