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Gazeta Paços de Ferreira

01/10/2021, 0:00 h

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VAMOS FALAR DE DOENÇA MENTAL | Gravidez e o período pós-parto

Margarida Barros

A gravidez e o período pós-parto (1 ano após o parto) são os períodos mais vulneráveis da vida da mulher no que concerne ao desenvolvimento de psicopatologia, quer pelo potencial de descompensação de doenças de base já conhecidas, quer pelo surgimento de quadros patológicos de novo (ex: doença bipolar).

 De facto, 85% das mulheres, nesta fase, apresentam algum tipo de sintomas psiquiátricos e cerca de 10 a 15% vão ter sintomas moderados a graves.

 

As Perturbações do Pós-Parto (PPP) são o resultado de uma interação complexa entre fatores biológicos, genéticos, psicológicos e ambientais, sendo essencial estarmos alerta para a sua existência de forma a promover o seu correto e atempado diagnóstico e tratamento.

Durante o período do Pós-Parto existem sintomas psiquiátricos ligeiros, considerados normais, que podem surgir 2a5 dias após o parto e durar cerca de 2 semanas e que revertem espontaneamente sem consequências - Baby Blues.

Contudo, a manutenção no tempo destes sintomas ou o seu agravamento causando disfuncionalidade na mulher, no casal, no bebé já é considerado doença.

De todas as PPP que podem emergir neste período a depressão e as perturbações da ansiedade são as mais prevalentes (até 15%).

No caso da depressão esta geralmente ocorre a partir da 6ª semana do parto e ocorre uma mudança dramática do funcionamento da mulher, podendo ocorrer sintomas de tristeza, choro fácil, agitação/inquietação, diminuição da concentração, confusão, alterações comportamentais, fadiga, insónia, diminuição da líbido, pensamentos negativos ou ruminativos normalmente focados no bebé, sentimentos de culpa de não conseguirem desempenhar o papel de mãe; hipervigilância em relação à saúde do bebé e pensamentos de morte.

Apesar destas constituírem as principais alterações verificadas no Pós-Parto, doenças como perturbações obsessivo compulsivas, perturbações do stress pós-traumático, perturbações do comportamento alimentar também podem ter início ou exacerbação nesta fase.

Mais raramente, felizmente, mas com consequências mais graves, podem surgir sintomas psicóticos com necessidade frequente de referenciação para Psiquiatria e que podem culminar em internamento hospitalar.

De facto, a principal causa de mortalidade materna é o suicídio materno no pós-parto, sendo fundamental que este risco seja abordado com a mãe, assim como, o risco de infanticídio.

É importante promover a desmistificação da gravidez e do pós-parto como uma fase “cor-derosa” onde os sentimentos de tristeza ou desesperança não podem ter lugar, alertando todas as grávidas para isso mesmo.

Margarida Barros , Médica Psiquiátrica

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