07/02/2022, 0:00 h
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As alucinações são perceções reais que ocorrem sem a existência de um objeto. Ou seja, o sistema nervoso sensorial deteta estímulos internos, sem que ocorra um estímulo no meio externo (realidade).
Existem vários tipos de alucinações mediante o campo sensorial que é afetado: visuais, auditivas, olfativas, tácteis, gustativas, cinestésicas, etc. Estas alterações da sensoperceção podem ter várias causas, tais como: consumo/abstinência de drogas e medicamentos; stress; medo; fadiga; alterações do padrão de sono (mais frequentemente privação); demências; etc.
Outro aspeto importante sob as alucinações consiste na relação entre o tipo de alucinação e a possível causa das mesmas. O exemplo mais bem estabelecido consiste nas alucinações auditivas - vulgarmente “ouvir vozes” - que estão associadas a doenças psicóticas como a esquizofrenia. É frequente o relato por parte destes pacientes de ouvirem sons/ruídos, ou mesmo vozes de pessoas, que podem falar na 3º pessoa tecendo comentários negativos sobre as características ou ações do indivíduo. Estas “vozes” são frequentemente percecionadas como “fora da cabeça” e podem dar ordens ao indivíduo – transformando-as numa experiência muito desagradável com impacto no dia a dia. Por outro lado, as alucinações visuais estão mais associadas a uma doença orgânica, como a demência ou a privação sensorial. De facto, alguns indivíduos, sobretudo idosos, com perda de visão (total ou parcial) podem desenvolver alucinações visuais, simples ou complexas (ex: formas geométricas, pessoas, animais, paisagens, edifícios, sombras…), sem estarem associados a doença psiquiátrica ou alterações da consciência. Podem ainda existir experiências percetivas associadas a fenómenos visuais, auditivos ou tácteis que acontecem na transição dos períodos sono-vigília: hipnopômpicas quando ocorrem ao despertar e hipnagógicas quando ocorrem ao adormecer. Geralmente, ocorrem num curto período de tempo, não estando relacionadas com nenhuma doença - acontecendo simplesmente pela persistência da experiência dos sonhos. Em alguns casos, porém, pode ser necessária investigação adicional.
Embora algumas doenças psiquiátricas possam manifestar-se com alucinações, é importante tranquilizar os pacientes e as famílias sobre a potencial benignidade das mesmas. Um diagnóstico errado pode ser angustiante e ter consequências no tratamento e no prognóstico. Assim, aquando da presença de alucinações é fundamental a realização de um estudo e avaliação complementar para perceber a causa das mesmas.
Margarida Barros, Médica Psiquiátrica
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