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Gazeta Paços de Ferreira

17/12/2021, 0:00 h

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Uma Panela de batatas e uns rabos de bacalhau

Cultura

Apesar disso, quando alguns partidos políticos exigem um pequeno aumento dos salários para um nível que dignifique minimamente as profissões, levantam-se os patrões dos patrões, em coro, gritando sem vergonha que não se podem dar ao luxo de pagar estes luxos aos seus assalariados, como se fossem estes que fizessem grandes viagens de férias e se passeassem em carrões.

Ouve-se frequentemente dizer que é preciso firmas saudáveis para criarem empregos de qualidade; que sem patrões ninguém sobreviveria; que os que têm trabalho e um salário no final do mês nem sabem como a sorte os bafeja. E, ouvido assim, dá vontade de colocar os donos das empresas num pedestal, de os santificar. A ideia que fica é que todos os empregados são dispensáveis, substituíveis, material sem grande valor. E se, por acaso, falha a mão de obra em determinados setores económicos, vêm a terreiro gritar que todos os desempregados são uns malandros e que é preciso que se permita a importação de gente que queira trabalhar. Fala-se de imigrantes, bem entendido, de pessoas que não dispõem de qualquer meio para se defenderem de certos abusos, e que serão facilmente convencidas a trabalharem muito mais horas por um salário menor.

Ouvi, recentemente, que a maioria das costureiras das fábricas de confeções ganham o ordenado mínimo, menos de setecentos euros por mês. Podem tentar convencer-nos que se trata de mão de obra não qualificada, de trabalhadoras que não merecem mais do que isto. Escondem que, a maior parte das vezes, cada uma destas mulheres mantém-se estoicamente de pé oito horas seguidas a acompanhar uma linha de produção, executando as suas funções profissionais sem uma falha. Apesar disso, quando alguns partidos políticos exigem um pequeno aumento dos salários para um nível que dignifique minimamente as profissões, levantam-se os patrões dos patrões, em coro, gritando sem vergonha que não se podem dar ao luxo de pagar estes luxos aos seus assalariados, como se fossem estes que fizessem grandes viagens de férias e se passeassem em carrões.

Há falta de mão de obra em vários setores económicos e, segundo alguns donos de firmas a faturarem em território nacional, não é por culpa dos salários baixos, porque pagam aos seus empregados mil euros ou mais. Não divulgam (talvez porque isso não interessa) que para levarem para casa os tais mil euros mourejam muito mais horas do que as quarenta previstas na lei. Paguem o justo e verão que até os portugueses que emigraram regressarão.

Estamos em dezembro e desejamos que o 2022 venha melhor. Aproveitando a bondade desta época festiva, desejo um FELIZ NATAL a todos os humanos, mas muito particularmente àqueles que terão de se contentar com uma consoada simples, uma panela de batatas e uns rabos de bacalhau.

 Joaquim António Leal

 

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