07/01/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Lidyanne Mariano
Em Portugal, ao contrário do Brasil, onde o calor é constante, as sombras são gélidas e o sol, sempre reconfortante. Sendo carioca, o calor se fazia necessário, mesmo não sendo minha primeira experiência outonal aqui.
Ao passar pela rotunda e quase chegar à travessa principal, um senhor de idade avançada abordou-me com um tom afetuoso:
_ Não estás no Brasil, tens que vestir um casaco para não apanhares uma constipação. Nessa altura, não é bom adoecer, menina.
Respondi prontamente, explicando a minha busca por um pouco de sol antes que o frio se instalasse. Mesmo assim, o senhor insistiu:
_ Sentes falta do Brasil? De onde a senhora vem?
A conversa estendeu-se por alguns minutos, e, ao nos despedirmos, desejei-lhe o melhor. A sua gentileza e carinho desinteressado surpreenderam-me, contrastando com atitudes menos amigáveis de alguns senhores mais jovens na região.
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Nessa mesma semana, testemunhamos um lamentável episódio envolvendo uma brasileira e uma portuguesa, onde ela proclamava-se "portuguesa de raça" e exclamava "volta para tua terra". Uma triste constatação de que nem todos compartilham da mesma educação e respeito que o senhor Nuno demonstrou.
Apesar das desagradáveis experiências que muitos brasileiros costumam descrever, mantenho as minhas caminhadas pela rua, onde o senhor Nuno, sempre cordial, acena com a sua boina ou mãos. A sua gentileza parece ser um pedido de desculpas silencioso pelas atitudes menos tolerantes de alguns conterrâneos.
É crucial que os responsáveis por atos xenofóbicos compreendam que não há "raça superior". Somos todos seres humanos, e devemos aprender com os erros do passado, como a xenofobia que atingiu o seu ápice durante a Segunda Guerra Mundial, culminando no Holocausto nazista.
A xenofobia não representa Portugal, assim como o crime não representa o Brasil. Contudo, é imperativo que não ignoremos tais acontecimentos e busquemos evoluir como sociedade. Já eu sigo nas minhas caminhadas diárias, encontrando na gentileza do senhor Nuno uma esperança de que, apesar das diferenças, a humanidade possa seguir um caminho de compreensão mútua.
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