13/09/2024, 0:00 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
COMENTÁRIO - EDUCAÇÃO
Falta de professores
No início desta semana, havia cerca de 178 mil alunos sem professor, pelo menos a uma disciplina. Apesar dos concursos e colocações de docentes, há ainda muitas vagas por preencher. A situação é particularmente grave nos distritos de Lisboa, Setúbal e Faro. Estas vagas são de horários anuais, ou seja, não houve docentes a concorrer para estes locais para trabalhar o ano inteiro e em horários, à partida, completos.
A agravar a situação, há docentes colocados, que já estão a meter baixa médica, o que implica a necessidade de serem substituídos. Contudo, estas novas vagas decorrentes de baixa médica são, por norma, temporárias, ou seja, a vaga existe enquanto o docente titular se mantiver doente. Na prática, quando este regressar, o substituto ficará sem colocação. Se não houve professores para vagas a tempo inteiro e anuais, haverá para estas vagas temporárias? Provavelmente não!
Quererá isto dizer que é certo que, à semelhança do ano anterior, muitos alunos não terão professores a determinadas disciplinas.
Soluções que levam tempo
O problema da falta de professores não é de agora, mas tem-se ido arrastando sem que fosse resolvido. O governo tem lançado algumas medidas que até podem ajudar, mas que levam tempo.
Nos últimos anos têm-se formado poucos professores. A carreira docente tornou-se pouco atrativa em vários aspetos e poucos queriam seguir a via profissional na área de educação.
Este ano foi a primeira vez que os cursos superiores na área de Educação foram preenchidos logo na primeira fase de acesso ao Ensino Superior. Contudo, a formação leva tempo, demora e apenas daqui a cerca de cinco anos estarão formados. Até lá, muitos, dos que estão no ativo, entrarão na reforma e outros, em idade já bastante avançada, acusarão o desgaste físico e psicológico da profissão e, provavelmente, não aguentarão um ano letivo completo.
O governo, na tentativa de valorizar a carreira, lançou algumas medidas práticas: a recuperação do tempo de serviço, que era justamente solicitada pelos docentes e a abolição, ainda que temporária, das malfadadas quotas no acesso a alguns escalões.
Mexeu também na carreira, principalmente dos mais novos e dos contratados, de forma a que professores, a trabalhar há 20 ou mais anos, conseguissem progredir e sair dos 1100€ mensais.
Para atrair a formação de novos docentes, aboliu o pagamento de propinas nos cursos de Educação. Está ainda em discussão o pagamento de subsídio de deslocação para professores, que concorram para zonas onde há falta de docentes.
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Assimetrias
Claro que a situação não é igual em todo o território nacional. Já referi acima quais são os distritos onde a situação é mais grave.
No Norte, para já, os docentes ainda são em número superior às necessidades e, por isso, ainda conhecemos professores, que aguardam uma colocação.
Claro que muitos deles não desejam uma colocação a Sul, devido aos custos que tal situação acarreta.
Quando se fala no custo de um simples quarto a rondar os 700-800€ mensais na zona de Lisboa ou Setúbal, é normal que as pessoas façam as contas. Ninguém tem que pagar para trabalhar.
A solução passa, sem dúvida, por investir na formação de docentes mais perto das zonas onde há escassez, não descurando, contudo, as outras, pois os professores serão sempre necessários em todos os sítios.
Passa também por haver um investimento no alojamento dos docentes. A Câmara de Oeiras disponibilizou cerca de 105 alojamentos para professores deslocados, cuja residência seja a mais de 60 km. As rendas serão entre 150€ e 400€.
Fê-lo porque aposta na oferta de habitação acessível a profissionais essenciais para o município, tais como os professores. Considero que é uma boa iniciativa e que, provavelmente, poderá atenuar alguma falta de docentes na zona.
Consequências na sociedade
Acho que a Sociedade em geral se manteve alheia e à margem dos problemas da carreira docente.
No entanto, estes problemas começam a afetar e afetarão a Sociedade em geral.
Quando se fala em igualdade no acesso à Educação, começa a ser uma falácia, pois há alunos que passarão longos períodos, ou até um ano inteiro, sem aulas a algumas disciplinas.
Mas esses alunos estarão depois sujeitos aos exames nacionais como os demais.
Os pais com algum poder monetário pagarão colégios ou aulas particulares, mas e os outros? Cada vez mais haverá um fosso e desigualdade no acesso ao que devia ser igual para todos.
Sem professores motivados e estáveis não haverá Educação de qualidade e todas as outras profissões serão afetadas.
É hora de deixarmos de olhar só para o nosso umbigo e percebermos que é urgente a aposta séria na Educação! Está na altura de reconhecer a profissão docente como uma profissão essencial!
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